sábado, janeiro 28, 2006

Alessandro Baricco

Acabei de ler um livro muito bonito, "Questa Storia", romance de Alessandro Baricco, editado no final do ano passado por uma casa editora romana quase desconhecida que se chama "Fandango Libri". Mais um romance de Baricco, escritor que nasceu em Turim em 1958, cuja editora customava ser "Rizzoli". Dele já li também "Seta" e "Castelli di Rabbia". "Seta" conta a história de um homem que dá a volta ao mundo à procura da felicidade e que acaba por descobrir, tarde de mais, que a felicidade tinha sempre estado ali, ao seu lado, no ponto de partida de todas as suas viagens...

Passo a citar (em tradução livre) alguns trechos de "Questa Storia" que me parecem particularmente belos.

"Construirei uma estrada, disse. Em qualquer sítio, não sei, mas será construida. Uma estrada como nunca, ninguém a terá imaginado. Uma estrada que acaba onde começa. Será construida no meio de nada, nem sequer uma casota, um tapume, nada. Não será uma estrada feita para as pessoas, será uma pista, feita para correr. Não levará a sítio algum, porque conduzirá a si mesma, e estará fora do mundo, e longe de qualquer imperfeição. Será todas as estradas da terra reunidas numa única e será onde sonhará chegar quem alguma vez tenha partido. Desenhá-la-ei eu e, sabes uma coisa? Fá-la-ei suficientemente longa para meter numa longa fila toda a minha vida, curva após curva, tudo o que os meus olhos viram e não esqueceram. Nada será perdido, nem a curva de um crepúsculo, nem a ruga de um sorriso. Cada coisa, não a terei vivido em vão, porque tornar-se-à terra especial, e desenho para sempre, e pista perfeita. Quero dizer-te isto: quando acabar de a construir, pegarei num carro e, sózinho, começarei às voltas, sempre mais rápido. Continuarei, sem nunca parar, até não sentir mais os braços e terei a certeza de percorrer um anel perfeito. Então, pararei no ponto exacto de onde tinha partido." (página 134)

"Disse-me que, segundo ele, as pessoas vivem anos e anos, mas, na realidade, é apenas numa pequena parte desses anos que vivem de facto, ou seja, nos anos em que conseguem fazer aquilo para que nasceram. Então, aí, são felizes. O resto do tempo é tempo que passam a esperar ou a recordar. Quando esperas ou recordas, disse-me, não estás nem triste nem feliz. Pareces triste, mas estás apenas à espera ou a recordar. Não são tristes as pessoas que esperam, e nem as que recordam. Simplesmente, estão longe." (página 156)

"Mas talvez seja verdade aquilo que ele diz, e cada caminho é circular, e não leva a parte nenhuma, mas ao interior de si mesmo, porque é demasiado espesso o nevoeiro do nosso medo e ilusórias as estradas que parecem conduzir a outros sítios." (página 157)

"Se a idade adulta te deu aquilo que querias, a velhice deve ser uma espécie de segunda infância, durante a qual deves voltar a brincar sem que ninguém te possa fazer parar." (página 179)

Não sei se alguma das obras de Baricco se encontra traduzida em português. Seria de qualquer maneira uma óptima ideia e teria concerteza muito sucesso uma boa tradução deste "Questa Storia".

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