quarta-feira, dezembro 28, 2005

ESPINOZA ou a razão como instrumento de felicidade

Baruch d'Espinoza viveu na Holanda entre 1632 e 1677. Pertencia à comunidade judaica de Amesterdão de origem portuguesa, que foi criada após a expulsão dos judeus de Portugal em 1496. Foi excomungado em 1656 pela Sinagoga e foi para Haia, onde se dedicava, também, ao polimento de vidros ópticos que eram muito apreciados em toda a Europa. A sua principal obra foi "Ética".

A filosofia de Espinoza conduz à sabedoria que dá alegria e felicidade através do conhecimento racional dos afectos, sem necessidade de um Deus transcendente (não é que Deus não exista em Espinoza, mas trata-se de um Deus-Natureza, infinito, não de um Deus pessoal). Depois de ter constatado como os fins triviais da vida são decepcionantes (pela sua inconsistência, fragilidade e relatividade em relação à nossa afectividade e à nossa subjectividade), Espinoza procurou qualquer coisa que fosse um "bem verdadeiro", isto é, um bem, ao mesmo tempo, sólido e extremo, qualquer coisa cuja descoberta e posse provoquem uma alegria permanente e soberana.

Espinoza diferencia o Desejo e as paixões. O Desejo, isto é, o desejo de alegria e de felicidade, é a essência da totalidade da vida afectiva. A paixão é apenas uma parte dessa vida afectiva. A paixão não é definida pelo afecto em geral, mas apenas pelo afecto passivo. Nós «agimos» quando a nossa obra se explica por nós mesmos e resulta apenas da nossa natureza. Pelo contrário, somos «passivos» quando a nossa obra resulta principalmente de causas exteriores a nós mesmos e à nossa essência. A afectividade não é um mal: o que se deve combater não é a afectividade (dado que todo o sentimento de crescimento de força é essencial e bom), mas apenas a afectividade passiva (dado que esta gera uma tristeza que é um sentimento de empobrecimento e de destruição).

Uma vez bem identificado o domínio e a essência da paixão como afecto passivo, envolvendo ideias inadequadas, não pertinentes, parciais e falsas, pode-se designar Servidão a situação de um indivíduo vivendo principalmente segundo as paixões: agindo por motivos e causas que não provêm dele próprio, de facto, o individuo é dependente e, portanto, escravo das suas paixões.

Por natureza, os homens são de tal modo constituídos que sentem comiseração pelos infelizes, invejam os felizes e odeiam estes últimos tanto mais quanto maior for o seu amor por um objecto que imaginam estar na posse deles. Aqui, não existe nenhum pecado, nenhum vício da natureza, mas apenas um encadeamento de motivações devido ao primado atribuído à imaginação, ao pensamento ilusório.

Referência: "Spinoza" de Robert Misrahi, Éditions Médicis-Entrelacs, Setembro 2005

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