sexta-feira, novembro 11, 2005

O preço das ideias

Giordano Bruno nasceu em Nola (perto de Nápoles) em 1548. Entrou na ordem dos dominicanos em 1565. Pouco tempo depois, G. Bruno contesta a ortodoxia e começa a exprimir um espírito rebelde. A sua curiosidade intelectual leva-o à leitura de Erasmo, humanista considerado herético desde 1559. Giordano navega no hermetismo e na magia, iniciando uma enorme paixão pela cosmologia. É expulso da ordem dominicana em 1576, nomeadamente, por ter retirado da parede da sua cela uma imagem da Virgem Maria e por rejeitar o dogma da Santíssima Trindade.

Em 1578 sai de Itália e divaga pela Europa. Acumula problemas com os mentores do poder espiritual da época por ousar pensar livremente. Foi excomungado pelos calvinistas de Genebra, foi recebido com hostilidade pelos anglicanos de Oxford e de Londres.

Em 1584, são publicadas as suas obras principais (“O Banquete das Cinzas”, “A Causa, o Princípio e a Unidade”, “Do Infinito, do Universo e dos Mundos”), nas quais expõe uma visão cosmográfica revolucionária, quase visionária. Refuta a velha concepção do geocentrismo e apoia a representação do mundo de Copérnico (heliocentrismo), excedendo-a: “o universo é infinito, povoado por uma multiplicidade de mundos análogos ao nosso”. Concebendo um mundo aberto, que sempre existiu e que sempre existirá, G. Bruno dá um salto na Imensidão. Contudo, permanece ancorado no seu tempo, acrescentando às suas intuições geniais credos herméticos, mágicos e animistas...

A audácia de G. Bruno atinge um ponto culminante com a publicação de “Os Furores Heróicos”, no qual defende a ideia de um mundo desprovido de centro, em que Deus não tem lugar.

Entre 1586 e 1588 exila-se na Alemanha, ensinando nas universidades de Magdburg e de Wittenberg. Mas, uma vez mais, vai contra as hierarquias e acaba por ser excomungado, desta vez, pela igreja luterana.

Em 1591 regressa a Itália, a Veneza. Um falso amigo denuncia-o à Inquisição. Em 23 de Maio de 1592, G. Bruno foi preso e presente ao Santo Ofício. O seu processo durou oito longos anos, durante os quais foi submetido a todo o tipo de sevícias físicas e morais. O Papa Clemente VIII tentou acabar com o processo, propondo a G. Bruno o perdão em troca de uma declaração de arrependimento. A sua resposta foi a seguinte: “Não temo nada e não renego nada e não sei o que deveria renegar”. Em 20 de Janeiro de 1600 Clemente VIII ordena ao Tribunal do Santo Ofício que se pronuncie. Após a leitura da sentença que o condena a ser queimado vivo, G. Bruno diz: “sentis vós mais medo e dúvida a pronunciar essa sentença do que eu a aceitá-la”.

No dia 17 de Fevereiro de 1600, após ter saído de Castel Sant’Angelo e percorrido várias ruas estreitas de Roma (incluindo Via del Pellegrino) escoltado por soldados da Cúria, G. Bruno foi queimado vivo na praça de Campo Dei Fiori, onde se encontra, ainda hoje, uma estátua magnífica em sua memória.

PS: O Cardeal Belarmino que instruiu os processos de G. Bruno e de Galileu foi canonizado em 1930.

Se fizerem uma pesquisa em Google com o nome do livre-pensador terão acesso a informação abundante, nalguns casos, de qualidade duvidosa. Para quem quiser de facto aprofundar a sua biografia e a sua obra aconselharia o livro de Anacleto Verrecchia intitulado precisamente “Giordano Bruno”, Donzelli Editore, Roma, 2002. Desculpem o diletantismo, mas não sei se existe tradução em português.

2 comentários:

Alexandre Carvalho disse...

obrigado.

a parte do seu julgamento relembrou-me Sócrates. Só por essa verticalidade merece atenção.

Anónimo disse...

Wow, my kind of man!...

Infelizmente nao falo italiano de modo que nao posso ler o livro que recomendas, mas vou mandar vir esta versao:
http://www.amazon.com/Giordano-Bruno-Philosopher-Ingrid-Rowland/dp/0226730247/ref=sr_1_3?s=books&ie=UTF8&qid=1383488319&sr=1-3&keywords=Giordano+Bruno