A minha leitura do último romance de Saramago (“As Intermitências da Morte”, Editorial Caminho, Outubro 2005) começou mal, continuou pior e acabou em apoteose. Para dizer tudo em poucas palavras: tive de perseverar contra o tédio e a sonolência durante cerca de 170 páginas para gozar as últimas 40 páginas que realmente merecem a pena: nada mais, nada menos do que uma história de amor entre a morte e uma das suas vítimas, um violoncelista que vive sózinho com um cão. Naturalmente, não vos digo se o final é feliz ou infeliz. A não perder !
Noto, porém, um certo esgotamento na veia criativa de Saramago. Os últimos romances (digamos, desde “Ensaio sobre a Cegueira” que é, em absoluto, o meu preferido) contam, fundamentalmente, a mesma história: uma sociedade fechada e cínica com uma minoria de pessoas sensíveis que, em dado momento, é ameaçada por um acontecimento insólito e generalizado (a cegueira, o voto em branco, a intermitência da morte). O governo é calculista e distante dos cidadãos. A minoria de pessoas sensíveis consegue preservar a sua integridade e sair mais ou menos incólume da ameaça colectiva.
Depois, o estilo de Saramago é o que é : parágrafos longuíssimos e compactos, divagações de oportunidade duvidosa no contexto da história. Contudo, a diversidade e a qualidade do vocabulário e da construção das frases são intocáveis na minha, bem modesta, opinião.
Transcrevo dois trechos do “As Intermitências da Morte”, mostrando o enfado do próprio escritor, quase pedindo desculpa pelo labirinto em que se transformou a narrativa…
“Os amantes da concisão, do modo lacónico, da economia de linguagem, decerto se estarão perguntando porquê, sendo a ideia assim tão simples, foi preciso todo este arrazoado para chegarmos enfim ao ponto crítico. A resposta também é simples, e vamos dá-la utilizando um termo actual, moderníssimo, com o qual gostariamos de ver compensados os arcaismos com que, na provável opinião de alguns, hemos salpicado de mofo este relato, Por mor do background.” (pg. 71)
“É possivel que só uma educação esmerada, daquelas que já se vêm tornando raras, a par, talvez, do respeito mais ou menos supersticioso que nas almas timoratas a palavra escrita costuma infundir, tenha levado os leitores, embora motivos não lhes faltassem para manifestar explícitos sinais de mal contida impaciência, a não interromperem o que tão profusamente viemos relatando e a quererem que se lhes diga o que é que, entretanto, a morte andou a fazer (...)”. (pg. 129)
Noto, porém, um certo esgotamento na veia criativa de Saramago. Os últimos romances (digamos, desde “Ensaio sobre a Cegueira” que é, em absoluto, o meu preferido) contam, fundamentalmente, a mesma história: uma sociedade fechada e cínica com uma minoria de pessoas sensíveis que, em dado momento, é ameaçada por um acontecimento insólito e generalizado (a cegueira, o voto em branco, a intermitência da morte). O governo é calculista e distante dos cidadãos. A minoria de pessoas sensíveis consegue preservar a sua integridade e sair mais ou menos incólume da ameaça colectiva.
Depois, o estilo de Saramago é o que é : parágrafos longuíssimos e compactos, divagações de oportunidade duvidosa no contexto da história. Contudo, a diversidade e a qualidade do vocabulário e da construção das frases são intocáveis na minha, bem modesta, opinião.
Transcrevo dois trechos do “As Intermitências da Morte”, mostrando o enfado do próprio escritor, quase pedindo desculpa pelo labirinto em que se transformou a narrativa…
“Os amantes da concisão, do modo lacónico, da economia de linguagem, decerto se estarão perguntando porquê, sendo a ideia assim tão simples, foi preciso todo este arrazoado para chegarmos enfim ao ponto crítico. A resposta também é simples, e vamos dá-la utilizando um termo actual, moderníssimo, com o qual gostariamos de ver compensados os arcaismos com que, na provável opinião de alguns, hemos salpicado de mofo este relato, Por mor do background.” (pg. 71)
“É possivel que só uma educação esmerada, daquelas que já se vêm tornando raras, a par, talvez, do respeito mais ou menos supersticioso que nas almas timoratas a palavra escrita costuma infundir, tenha levado os leitores, embora motivos não lhes faltassem para manifestar explícitos sinais de mal contida impaciência, a não interromperem o que tão profusamente viemos relatando e a quererem que se lhes diga o que é que, entretanto, a morte andou a fazer (...)”. (pg. 129)
1 comentário:
chiça :]
lobo antunes, eu amo-te!
;D**
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