Para os budistas,
“dukkha” é o cerne de toda a vida. Toda a vida, como é habitualmente vivida
pelo mais comum dos mortais, é “dukkha”... mas a vida não tem, necessariamente,
de ser só “dukkha” – há, também, um elevado grau de responsabilidade pessoal.
Nenhuma palavra em
inglês (nem, que eu saiba, em português) captura adequadamente a profundidade,
alcance e subtileza da palavra “dukkha.” O nascimento é “dukkha”, o
envelhecimento é “dukkha”. A tristeza, a
lamentação, a angústia, o desespero, a associação com o mal-amado e a separação
do amado é “dukkha”; por outras palavras, toda a dor é “dukkha”. E o que está por detrás de tanta dor? Nada
mais nada menos do que o apegamento (mais no sentido de fixação do que de
afeição). Este “apegamento” manifesta-se nas mais várias formas sendo as mais
comuns, penso: o ciúme, a inveja e a ganância. Dukkha acontece sempre que nos
deixamos obcecar pelo dinheiro, pelo poder, por um par de sapatos (ou qualquer
outro bem material) demasiado caro para a nossa bolsa, quando nos apegamos a um
ideal inalcançável (como, por exemplo, termos nascido no seio de outra família
em vez de naquela que nos caiu na rifa...) ou quando o objecto do nosso
apegamento/fixação é outro ser humano. Este último, a meu ver, é o mais
perigoso porque pode levar à obsessão, perseguição...ou
até mesmo à violência – e, na melhor das hipóteses, à perda de identidade e
“self-respect.”
Dito
isto, um dos maiores sofrimentos é quando nos apegamos aos outros; quando
abrimos o coração com pessoas que gostariamos de ter na nossa vida e elas
ignoram-nos. Não conseguir o que se pretende com quem se pretende é a maior
dukkha de todas. E há que
ter cuidado, pois ser carente (ou demasiado “clingy”*) numa relação tem, frequentemente,
o efeito oposto do desejado:
“You think because he doesn't love you that you are
worthless. You think that because he doesn't want you anymore that he is right
-- that his judgment and opinion of you are correct. If he throws you out, then
you are garbage. You think he belongs to you because you want to belong to him.
Don't. It's a bad word, 'belong.' Especially when you put it with somebody you
love. Love shouldn't be like that… You can't own a human being. You can't
lose what you don't own. Suppose you did own him. Could you really love
somebody who was absolutely nobody without you? You really want somebody like
that? Somebody who falls apart when you walk out the door? You don't, do you?
And neither does he. You're turning over your whole life to him. Your whole
life, girl. And if it means so little to you that you can just give it away,
hand it to him, then why should it mean any more to him? He can't value you
more than you value yourself.”
Citação encontrada
aqui:
Aquilo a que Toni Morrison se refere
acontece sempre que confundimos amor com apego; o amor nunca é doloroso, mas a
fixação pode transformar o amor em tortura. É por isso que, quando estamos numa
relação com alguém que precisa de espaço e decide se afastar (e por muito
difícil que seja) a atitute mais saudável é dizer qualquer coisa como “Querido, deixa-me ajudar-te a fazer as malas.”
Por vezes parecem mudar de ideias para evitar dramas e fitas, mas o certo é
que, a longo prazo, atitudes destas só criam ressentimentos. É bem melhor
deixá-los ir e que se arrependam depois – arrependimentos fazem parte da vida e
ajudam a crescer.
E por muito que uma situação destas doa, há que lembrar do seguinte: “O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido”- Grande
señor Neruda!
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