sexta-feira, janeiro 03, 2014

O que eu vi hoje



O que eu vi hoje espero nunca mais ver. O que eu vi hoje fez-me sentir uma verdadeira inútil. O que eu vi hoje nunca mais esquecerei.  O que eu vi hoje não devia de existir. What I saw today shocked me to no end. What I saw today made me angry beyond words; angry at this society that values individualism above anything else but, above all, angry at myself for not knowing what to do...and double angry for not even trying. I'm no better than those who think only of themselves and don't give a rat's ass about another’s plight. I learned that I have no right to judge those who sit on their behinds and do nothing...because that's exactly what I did. Nothing.  As a result, what I saw today is something that I will carry in my heavy heart until the end of (my) time. 

Hoje, a temperatura aqui onde resido oscilou entre os -23°C e os -11°C. “Homeless Shelters” (centros de assistência aos sem-abrigo) andam esgotados, os que lá conseguem pernoitar têm de sair de manhã cedo e algumas filas (que incluem famílias inteiras) são intermináveis. Tudo isto para dizer que anda por aí muita gente desamparada e a morrer de frio – literalmente. 

Quando ia a saír do trabalho, toda agasalhada e desejando de chegar ao carro para ligar o aquecimento, atravessa-se à minha frente um homen alto com um bébé ao colo em direcção a um “alleyway” (beco muito estreito entre dois prédios) e quando eu passo por lá não é que olho e vejo o senhor de cocoras, com os braços por cima da cabecinha do bébé, a resguardá-lo do vento frígido? Será que se estava a preparar para lá passar a noite? E o que é que eu faço? Nadinha. Rien. Niente. Nil. Zero e Nada. Continuo na minha, a andar o mais depressa possível em direcção ao meu conforto, sem nunca perguntar ao senhor se queria uma sopa quente, ou uns cobertores, ou leite para o bébé. Porquê? Porque tive medo de me meter e assim era mais fácil e “seguro”. Porque estou a ficar igual a todos os outros cegos que (para citar José Saramago, “vendo não vêem.”). Porque me estou a tornar naquilo que sempre desprezei. Como as lojas já estavam todas fechadas na pasmaceira da “cidade” onde trabalho, o mínimo que eu devia ter feito era dar ao senhor o meu casaco, gorro, luvas e cachecol; sempre tenho mais em casa e não estava assim tão longe do carro que depressa me levaria ao meu conforto. Mas não.... falo, falo, falo, mas quando se trata de arregaçar as mangas para fazer alguma coisa, fico igualzinha aos que me rodeiam – como se de osmose se tratasse.
  
Quando eu era pequena e via pobres (sobretudo idosos e crianças sebentas, esfarrapadas e ranhosas) nas ruas de Coimbra a pedir esmola, ficava zangada com a minha mãe porque ela não me deixava levá-los para casa para tomarem um bom banho e comerem o raio da sopa que eu tanto detestava e me obrigavam a comer. Hoje, quando tenho mais poder para fazer algo, não faço nada. 

Enquanto que uns se dão ao luxo de sair do trabalho mais cedo por causa do forte nevão e vento ártico que não parece ter fim e se preparam para passar a noite no conchego, outros há que sofrem e morrem ao relento devido ao egoismo e indiferença dos primeiros. Zanga-me saber a que categoria pertenço.

Escusado será dizer que neste preciso momento não tenho uma opinião muito positiva da minha pessoa. Vou ficar com a expressão daquela criança de olhos grandes, bochechinhas rosadas do frio e olhar alerta e inocente para sempre imprimida na mente. Mais um remorso. Como se aqueles que já me mancham a alma não chegassem.
 
this bullshit really makes my blood boil!...

arte urbana no seu melhor


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