O que eu vi hoje espero nunca mais ver. O que eu vi hoje fez-me sentir uma
verdadeira inútil. O que eu vi hoje nunca mais esquecerei. O que eu vi hoje não devia de existir. What I saw today shocked me to no end. What
I saw today made me angry beyond words; angry at this society that values
individualism above anything else but, above all, angry at myself for not
knowing what to do...and double angry for not even trying. I'm no better than
those who think only of themselves and don't give a rat's ass about another’s
plight. I learned that I have no right to judge those who sit on their behinds
and do nothing...because that's exactly what I did. Nothing. As a result, what I saw today is something
that I will carry in my heavy heart until the end of (my) time.
Hoje, a temperatura aqui onde resido oscilou entre os -23°C e os -11°C. “Homeless Shelters” (centros de
assistência aos sem-abrigo) andam esgotados, os que lá conseguem pernoitar têm
de sair de manhã cedo e algumas filas (que incluem famílias inteiras) são
intermináveis. Tudo isto para dizer que anda por aí muita gente desamparada e a
morrer de frio – literalmente.
Quando ia a saír do trabalho, toda agasalhada e desejando de chegar ao
carro para ligar o aquecimento, atravessa-se à minha frente um homen alto com
um bébé ao colo em direcção a um “alleyway” (beco muito estreito entre dois
prédios) e quando eu passo por lá não é que olho e vejo o senhor de cocoras,
com os braços por cima da cabecinha do bébé, a resguardá-lo do vento frígido?
Será que se estava a preparar para lá passar a noite? E o que é que eu faço?
Nadinha. Rien. Niente. Nil. Zero e Nada. Continuo na minha, a andar o mais
depressa possível em direcção ao meu conforto, sem nunca perguntar ao senhor se
queria uma sopa quente, ou uns cobertores, ou leite para o bébé. Porquê? Porque
tive medo de me meter e assim era mais fácil e “seguro”. Porque estou a ficar
igual a todos os outros cegos que (para citar José Saramago, “vendo não vêem.”). Porque me estou a tornar naquilo que sempre desprezei. Como as lojas já
estavam todas fechadas na pasmaceira da “cidade” onde trabalho, o mínimo
que eu devia ter feito era dar ao senhor o meu casaco, gorro, luvas e cachecol;
sempre tenho mais em casa e não estava assim tão longe do carro que depressa me
levaria ao meu conforto. Mas não.... falo, falo, falo, mas quando se trata de
arregaçar as mangas para fazer alguma coisa, fico igualzinha aos que me rodeiam
– como se de osmose se tratasse.
Quando eu era pequena e via pobres (sobretudo idosos e crianças sebentas,
esfarrapadas e ranhosas) nas ruas de Coimbra a pedir esmola, ficava zangada com
a minha mãe porque ela não me deixava levá-los para casa para tomarem um bom
banho e comerem o raio da sopa que eu tanto detestava e me obrigavam a comer.
Hoje, quando tenho mais poder para fazer algo, não faço nada.
Enquanto que uns se dão ao luxo de sair do trabalho mais cedo por causa do
forte nevão e vento ártico que não parece ter fim e se preparam para passar a
noite no conchego, outros há que sofrem e morrem ao relento devido ao egoismo e
indiferença dos primeiros. Zanga-me saber a que categoria pertenço.
Escusado será dizer que neste preciso momento não tenho uma opinião muito
positiva da minha pessoa. Vou ficar com a expressão daquela criança de olhos
grandes, bochechinhas rosadas do frio e olhar alerta e inocente para sempre
imprimida na mente. Mais um remorso. Como se aqueles que já me mancham a alma não chegassem.
this bullshit really
makes my blood boil!...
arte urbana no seu melhor
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