sábado, janeiro 25, 2014

O actual estado da comunicação social neste país (e algumas comparações com Portugal)



Uma recente troca de informações e impressões com um amigo português residente na Europa sobre o estado da comunicação social em Portugal, pôs-me a pensar sobre o actual estado da “national media” nos EUA, o país onde resido há quase quarenta anos. 
  
Quando vim de Portugal havia só dois canais de televisão e nem num nem noutro a programação durava 24 horas; chego cá e deparo-me com três canais (ABC, CBS e NBC) mais uns tantos para os quais era preciso uma antena em cima da TV (“rabbit ears” era o que chamavam a esse tipo de antenas); pouco tempo depois aparece a televisão por cabo com ainda mais canais e mais tarde veio a televisão por satélite com uma porrada de canais, mais a Internet, “streaming” e tudo quanto temos hoje. Sei que, em Portugal , a televisão (e o meio como as notícias são divulgadas e as pessoas obtêm informação) mudou ainda mais e, neste aspecto, penso hoje não existir grandes diferenças entre os dois países. Por aquilo que já tive oportunidade de constatar, onde também não há grande diferença é na opinião (ler saturação) de uma parte significante da população, nomeadamente por se ver sujeita a uma informação apresentada de forma sensacionalista: tragédias descritas em pormenores que não são do interesse do público em geral; uma série de “peritos” a saltitar de canal em canal a oferecer comentários e palpites ridículos sem factos concretos; informação esta fértil em especulação e em que tudo é repetido “ad nauseum” numa verdadeira diarreia verbal. Mas ainda existem diferenças:  

Eu tenho tendência para ver tudo, todos e a mim própria por um prisma crítico. Por vezes chego-me a chatear por ser incapaz de apreciar certas coisas e aceitá-las tal como são. Quando tenho oportunidade de ver as notícias na RTPi em casa dos meus pais, reparo que estas são apresentadas de uma maneira mais negativa e dramática do que aqui. Parece-me haver um esforço deliberado por parte dos apresentadores, comentadores e pivôs portugueses em sugerir que certos problemas são exclusivos a Portugal (ou piores em Portugal do que nos outros países da OCDE). Sim, é importante mostrar o que está mal e, mais importante ainda, apresentar soluções, mas concentrar quase exclusivamente nas mesmas tristezas e estar sempre a repetir as mesmas desgraças enquanto se ignora o que de bom há, só contribui para o actual desespero colectivo e, pior ainda, para matar toda e qualquer esperança no povo. Nisto, eu culpabilizo muito os orgãos de comunicação social; existem outros meios (fontes) de obter informação para além de estar ali defronte da “caixa” a ouvir tanta ladainha repetitiva e deprimente.  Eu há muito tempo que deixei de ver as notícias na TV e acho que não vivo com a cabeça enterrada na areia por causa disso. Foi uma escolha pessoal para manter o pouco que ainda me resta de sanidade e da qual ainda não me arrependi.

Outra diferença grande é na parcialidade com que as notícias são apresentadas . A década de 90 foi muito fértil em fusões e aquisições em duas indústrias: a bancária e a “mass media”; na indústria bancária, o resultado destas  “mega mergers and acquisitions” é do conhecimento de todos: passámos de “small mutual banks” locais a bancos regionais muito maiores...e de bancos de média e grande dimensão aos actuais “too big to fail” com a pouca vergonha de lucros privados e resgates públicos, claro, para bem do Zé povinho. E na segunda o resultado foi termos hoje apenas seis empresas (“corporations”) a controlar 90% dos meios de comunicação e a ilusão de escolha e imparcialidade, com tendências para piorar ainda mais em 2014. Isto está muito simplificado mas outro resultado inevitável foi na competição – ou falta dela. É por isso que o que actualmente se vê na TV é tudo apresentado da mesma forma, com muito pouca diversificação. E com o advento de “talk radio” e canais de TV dedicados a noticiar 24 horas por dia, 7 dias por semana, a diversificação entre dois meios de comunicação diferentes é praticamente inexistente.  Mas, para mim, a pior casualidade reside na pouca isenção com que a informação é apresentada.

Como escreveu uma vez o jornalista Bob Schieffer, hoje estamos na era do “jornalismo de validação”, onde as pessoas vêem um determinado canal ou ouvem um determinado programa não necessariamente procurando factos, mas sim validação; quase como se precisassem de alguém para validar os seus pontos de vista de modo a depois poderem dizer, “AH!AH! I knew it!!!...”

É possível obter notícias a partir de um ponto de vista liberal, ou a partir de um ponto de vista conservador; enquanto que os eleitores mais conservadores, religiosos e mais idosos obtêm a maior parte de informação pela TV e rádio, os mais jovens, os que têm um nível de instrução mais elevado  e os menos religiosos viraram-se mais para a Internet*. O grande problema, então, é o seguinte: é verdade? Será esta uma fonte de informação credível? 

É preciso estar-se muito atento e ser-se muito exigente. E é por isso que o país está tão dividido e é por isso que existe tanto conflito e desconfiança do “diferente”: You’re either with us or against us, was GWB's now infamous phrase, which has since stuck on so many levels.
 

*[Claro que há excepções, estes dados são baseados em sondagens que, por sua vez, são baseados em médias, nada mais. Além disso, conheço pessoas conservadoras instruídas, inteligentes e que não são religiosas; mas também conheço pessoas conservadoras que representam uma amostra bem ilucidativa das sondagens.]



 

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