De acordo com o filósofo chinês Confúcio, cuidar dos seus anciãos nada mais
é do que o dever e obrigação dos mais jovens; porém a China de hoje não é a
China de então, os laços familiares estão cada vez mais erodidos e o jovem
chinês está cada vez mais parecido com o jovem ocidental. Para resolver o
problema de idosos abandonados, o governo chinês promulgou uma lei a obrigar as
gerações mais novas a visitar as gerações mais velhas, a obrigar as empresas a
conceder uma licença aos trabalhadores para que tal seja possível e a autorizar
os pais a processar os filhos ausentes com uma acção em tribunal. Em princípio esta parece-me uma atitude de
louvar, mas quanto mais penso no assunto mais me convenço que não seria para
mim. É que isto parece-me “obrigação”
(dever) a mais.
Acho importante dar a saber aos nossos entes queridos que temos sempre a
porta aberta e que estamos disponíveis para o que for preciso, mas andar atrás
de outros que não querem saber de mim ou fazer dramas e fitas por causa disso
nunca foi comigo. O respeito, tal como o amor, não é automático, ambos têm de
ser merecidos. E quando o afastamento é devido à dor, acho o perdão
extremamente importante (ou não fossemos todos seres humanos, com todas as
falhas que isso implica – os religiosos
dizem que somos todos pecadores – ) mas também acho que em relações
problemáticas a distância pode acabar por se tornar “just what the doctor
ordered.” No início devemos dar a todas a relações “o benefício da dúvida” (partir
do príncipio que todos têm as melhores intenções) mas, depois, depende das
atitudes e actos de cada um. Além disso não teria interesse nenhum em forçar
filho meu que não quisesse saber da mãe para nada a estar comigo – preferia ir
viver para debaixo de uma ponte!...
Entretanto: enquanto que em Portugal há idosos abandonados nos hospitais
por familiares que não se estão para maçar, nos EUA os hospitais mandam os
doentes que possam receber tratamento ao domicílio para casa, independentemente
desses mesmos doentes terem, ou não, domicílio: “It’s their problem, not ours; we’re not in the charity business.”
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