domingo, setembro 15, 2013

Saudades de Angola 41 anos depois



Sobretudo da alegria, “leveza de espírito”, atitude positiva, simplicidade, simpatia e calor humano daquele povo; da arte africana que decorava as paredes e estantes de tantos lares; já para não falar das belas praias da ilha de Luanda ou do Lobito, da Restinga e do Cine Flamingo ao ar livre, das acácias rubras de Benguela, da rosa de porcelana, do colégio S. José de Cluny onde me sentia tão bem, da bata branca com manga curta (para contrastar com as batas de mangas compridas e a cores a que estava habituada), das borboletas enormes e lindas na estrada de Luanda para N’Dalatanto e da belíssima mata do Kilombo no Kuanza Norte. E tantas, tantas, outras coisas.  E o que eu não dava agora por uma barrigada de fruta tropical, amadurecida nas árvores, como toda a fruta deve ser... Só não gostei de  funge, mas isso talvez fosse devido às minhas papilas gustativas de pré-adolescente, que nunca tinham provado nem se adaptaram a tal iguaria. Mas adorava a galinha de moamba aos domingos e ginguba torrada com coca-cola ao lanche;  hoje em dia, porém, passo bem sem amendoins e coke – não têm o mesmo sabor.  Até a coca-cola e a chuinga (ou pastilha elástica) tinham outro gosto! ...

Talvez os melhores nove meses da minha vida. Soube a pouco. Ou como dizia o meu pai sempre que nos retirava de algum lugar onde éramos felizes, “acabou-se o que era doce.” Ainda hoje odeio essa expressão; prefiro “foi sol de pouca dura”, que é o que eu penso sempre que me recordo do pouco tempo em que por lá andei.

Faz hoje 41 anos que abandonei aquela bela terra. Quatro décadas sem pisar o seu solo ou cheirar o seu ar. Aquela bela terra que, apesar da minha tenra idade e do breve período  em que lá estive, me ficou para sempre no coração.  E apesar do paludismo (a pior “gripe” que alguma vez apanhei na vida), da matacanha (que decidiu se hospedar debaixo da unha do pé direito sem ser convidada) das baratas voadoras (que traumatizaram a minha irmã para a vida), de umas lagartixas “especiais” de que já não me recordo o nome (mas que eram quase tidas como “sagradas” e que trepavam as paredes de todas as casas à procura de mosquitos para comer), para não falar dos mosquitos do meu tamanho que não me largavam as pernas e tiravam-me a paciência.  Até disso tenho saudades...




Duas beldades angolanas: uma criança e a rosa de porcelana

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