Sobretudo da alegria,
“leveza de espírito”, atitude positiva, simplicidade, simpatia
e calor humano daquele povo; da arte africana que decorava as paredes e
estantes de tantos lares; já para não falar das belas praias da ilha de Luanda
ou do Lobito, da Restinga e do Cine Flamingo ao ar livre, das acácias rubras de
Benguela, da rosa de porcelana, do colégio S. José de Cluny onde me sentia tão
bem, da bata branca com manga curta (para contrastar com as batas de mangas
compridas e a cores a que estava habituada), das borboletas enormes e lindas na
estrada de Luanda para N’Dalatanto e da belíssima mata do Kilombo no Kuanza
Norte. E tantas, tantas, outras coisas.
E o que eu não dava agora por uma barrigada de fruta tropical,
amadurecida nas árvores, como toda a fruta deve ser... Só não gostei de funge, mas isso talvez fosse devido às minhas
papilas gustativas de pré-adolescente, que nunca tinham provado nem se
adaptaram a tal iguaria. Mas adorava a galinha de moamba aos domingos e ginguba
torrada com coca-cola ao lanche; hoje em
dia, porém, passo bem sem amendoins e coke – não têm o mesmo sabor. Até a coca-cola e a chuinga (ou pastilha
elástica) tinham outro gosto! ...
Talvez os
melhores nove meses da minha vida. Soube a pouco. Ou como dizia o meu pai
sempre que nos retirava de algum lugar onde éramos felizes, “acabou-se o que
era doce.” Ainda hoje odeio essa expressão; prefiro “foi sol de pouca dura”,
que é o que eu penso sempre que me recordo do pouco tempo em que por lá andei.
Faz hoje 41 anos
que abandonei aquela bela terra. Quatro décadas sem pisar o seu solo ou cheirar
o seu ar. Aquela bela terra que, apesar da minha tenra idade e do breve período
em que lá estive, me ficou para sempre
no coração. E apesar do paludismo (a
pior “gripe” que alguma vez apanhei na vida), da matacanha (que decidiu se
hospedar debaixo da unha do pé direito sem ser convidada) das baratas voadoras
(que traumatizaram a minha irmã para a vida), de umas lagartixas “especiais” de
que já não me recordo o nome (mas que eram quase tidas como “sagradas” e que
trepavam as paredes de todas as casas à procura de mosquitos para comer), para
não falar dos mosquitos do meu tamanho que não me largavam as pernas e
tiravam-me a paciência. Até disso tenho
saudades...
Duas beldades
angolanas: uma criança e a rosa de porcelana
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