terça-feira, fevereiro 12, 2013

Capitalismo imobiliário

Taxas de juro baixas, rendimento disponível crescente, diversos incentivos financeiros e fiscais ao sector da construção, euforia das autarquias e promiscuidade com os interesses do dito sector da construção, permitindo especulação sobre terrenos reciclados por generosos e volúveis planos directores municipais… foram alguns dos factores que fizeram disparar moderadamente em Portugal (em comparação com a Espanha ou a Irlanda) o sector imobiliário no período 1990-2010. Neste momento, pelas razões bem conhecidas, relacionadas com o que nos levou à troika e com o que se está a aplicar para alegadamente nos fazer sair da troika, o sector está em agonia com declínio de obras, perda de postos de trabalho, desvalorização do metro quadrado, multiplicação de insolvências, perdas maciças de crédito por parte dos bancos, abandono ou despejo dos prédios em direcção a um mercado de arrendamento cheio de problemas e impasses. E aqui está uma chave da questão: o mercado de arrendamento, esquizofrénico entre a lógica do investimento privado e uma incontornável dimensão social que o Estado não sabe como gerir sem entrar em situações de "selecção negativa", eufemismo de oportunismos e abusos de diversos cambiantes. Para mim, o futuro da construção deveria passar pela reabilitação (mais do que pela construção nova) e pelo desenho de sistemas inteligentes e justos de apoio ao pagamento pelas famílias carenciadas de rendas de mercado que atraiam o investimento privado.

Promoção pelo Estado de uma capitalismo imobiliário como aconteceu na Grécia ou em Espanha? Figas canhoto! Esses não são exemplos para ninguém e muito menos no que toca ao sector imobiliário que, no caso da Espanha, esteve na base de uma incrível bolha especulativa que pôs de joelhos toda a economia e distribuiu benesses e luvas a rodos às mais suspeitas (e insuspeitas) personagens. As taxas de ocupação de novos empreendimentos são ridiculamente baixas e o preço do metro quadrado em Espanha têm baixado nos últimos 3-4 anos na ordem dos 30% por ano depois de ter subido durante vários anos a taxas de magnitude ainda maior. A percentagem de crédito malparado à construção atinge níveis alucinantes, acima de 20-30%. Assim, não há capital dos bancos que resista! O efeito riqueza negativo estende-se ao sector das famílias e das empresas desencadeando falências em massa.

Mas, a bolha imobiliária que se sucedeu a outras bolhas de má memória (ex. internet, commodities) não foi exclusiva dos chamados países periféricos, nem sequer da Europa. De facto, os únicos países da UE em que o preço do metro quadrado não tem baixado nos últimos 2-3 anos são a Bélgica e o Luxemburgo...    

Esperemos pelo dia em que a armadilha de liquidez se desfaça e os preços dos activos toquem verdadeiramente o fundo para recomeçar uma nova FESTA. O voluntarismo incompetente dos Estados nas últimas décadas, ao serviço de certos lucros privados, tem servido apenas para amplificar o ciclo.   

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