quinta-feira, dezembro 20, 2012

Corridas

Corro. Como quem toma vitaminas. Como os miúdos a quem davam óleo de fígado de bacalhau. Corro para manter a forma, espécie de terapia para os músculos, coração e pulmões. Com a ilusão de perder calorias porque acho que estou a engordar, obsessão de cinquentões metódicos e resistentes à velhice. Apesar de tudo, corro menos vezes do que seria aconselhável para atingir os meus saudáveis fins porque a vida me esgota noutras corridas. Os meus percursos preferidos passam por jardins e cemitérios. Adoro desafiar os mortos com a eloquência do meu suor, fazendo-lhes pirraça, mostrando a mim mesmo que estou mais vivo do que nunca porque odeio a morte e os seus rituais e os seus monumentos ridículos. Sair do cemitério é como renascer para entrar na rua cheia de árvores que me leva a casa. No chuveiro, dou por terminado o masoquismo terapêutico.

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