Era uma vez um mentiroso que mentia tão bem que julgava ser verdade a mentira que dizia. A sua mentira era o mundo em que vivia que só ele conseguia ver, que só ele achava perfeito. À volta dele as coisas caíam estrondosamente, as pessoas sofriam, o dinheiro faltava, os sorrisos davam lugar às lágrimas. Mas, para o nosso mentiroso, isso não era real. Era tudo falso, o resultado de uma conspiração. O maior problema é que o nosso mentiroso tinha o poder de decidir sobre a vida dos outros, os quais, na sua opinião, não estavam assim tão mal. Apenas mal habituados... Para ele, os outros eram como crianças viciadas em privilégios, caprichosas, que era preciso educar, guiar pelos caminhos da virtude. Algum problema no presente seria de pouca dura porque o futuro, naquele seu mundo ideal, só podia ser risonho. Paciência e austeridade era do que precisavam os outros. Porque uma excelente realidade, melhor ainda do que nos sonhos do nosso mentiroso, deveria ser merecida. Não poderia ser um apanágio, um fruto de geração espontânea, o resultado de direitos excessivos.
Até que a realidade foi mais forte do que a ficção em que vivia o nosso mentiroso que se meteu a chorar, incrédulo, gritando que era aquela monstruosa realidade que estava errada. Erradíssima! E foi-se embora cabisbaixo porque os outros não mereciam a sua superior visão das coisas e o que ele poderia continuar a fazer para os pôr todos na ordem, naturalmente para o seu próprio bem. Porque de normas (incluindo de felicidade) sabia ele mais do que ninguém.
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