domingo, julho 22, 2012
Sr Joaquim
Há uns tempos chorava por tudo e por nada. Bastava ouvir o hino e punha-se a chorar. Via uma criança com fome a passar na televisão e chorava. Dizia a alguém que certa pessoa tinha morrido e chorava. Agora o Sr Joaquim está fodido: bateu-lhe à porta uma daquelas doenças de merda e a esposa mergulha numa apatia de legume e ele não chora. Deixou de chorar, valente como o granito, os olhos amarelados disparam uma raiva incrível para resistir, para mandar o sofrimento e a morte à puta que os pariu. Grande Sr Joaquim! O cansaço da dor e a iminência da morte secaram-lhe as lágrimas. Mas, de vez em quando, sorri com uma doçura inesperada, esperando um gesto de ternura dos que, atropelados pelas urgências da vida, não têm paciência para a fragilidade (patética, dizem eles…) dos velhos que deslizam inexoravelmente para o frio da terra.
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