A Espanha tem andado a meter a poeira debaixo da carpete, que é como quem diz: a assobiar para o lado ou a dizer que os seus problemas não são assim tão graves ou, pelo menos, que estão sob controlo. As autoridades espanholas, ancoradas num interessante consenso nacionalista, que conta com o apoio de políticos de quase todos os quadrantes e da imprensa mais influente, andam a negar a realidade e a pedir um tratamento excepcional aos stakeholders externos de que pode depender o destino da Espanha (Comissão Europeia, FMI). Os problemas dos bancos estariam quase resolvidos e, eis senão quando, só para um (Bankia, o 4° maior de Espanha), serão necessários mais 25 mil milhões de euros. O problema da dívida das regiões estaria sob controlo, mas os sinais de derrapagem sucedem-se, incluindo na mais rica região de Espanha, a poderosa Catalunha que tem um PIB semelhante ao de Portugal. As perdas do sector imobiliário estariam já todas reflectidas nos balanços dos bancos, das empresas e dos particulares, mas não é assim e os bancos continuam a fazer mais e mais provisões para crédito imobiliário mal-parado, numa interminável descida aos infernos. A desvalorização dos imóveis chega a atingir mais de 80%. Os investidores e os próprios aforradores domésticos estão a transferir capitais para fora de Espanha, deixando os bancos numa situação ainda mais complicada e provocando pedidos de injecção de liquidez por parte do benemérito do costume, o Banco Central Europeu. A promiscuidade entre bancos e Estado aumenta, em Espanha como em todos os países em dificuldade, com a degradação de uns a provocar a degradação do outro, numa espiral de conflitos de interesses, a pretexto do interesse público da estabilidade financeira.
Talvez as autoridades espanholas pensem que Espanha "is too big to fail" ou que, verdadeiramente aqui, joga-se a União Monetária, o euro. Grécia, Irlanda e Portugal teriam sido apenas tímidas antecâmaras de um problema maior, o de Espanha que definitivamente se confundirá com o da Europa. E assim Espanha terá de ser tratada obviamente de forma diferente, digamos, de forma mais clemente e sensata... no benefício dos espanhóis e de todos os europeus. Será mesmo assim?
3 comentários:
Pois, Rajoy bem tentou apaziguar os ouvintes com a cantiga de que o resgate ao Bankia era uma excepção e que a vasta maioria das instituições bancárias espanholas estão de óptima saúde, muchas gracias – mas os mercados fizeram orelhas moucas e foi o descalabro que se viu esta semana. Globalization and speculation at their best.
The thing I find hardest to swallow in this whole mess is the amount of “fear” and “speculation” involved. How can two things so intangible and subjective have so much clout?
E depois há tipos destes: http://www.bbc.co.uk/news/business-15059135
E destes: "I am a banker doing God's work" (Lloyd Blankfein,Goldman Sachs)
E destes: "We have to tolerate the inequity as a way to achieve greater prosperity." (Brian Griffiths, Goldman Sachs)
http://blogs.wsj.com/marketbeat/2009/11/09/goldman-sachs-blankfein-on-banking-doing-gods-work/
And then, all of a sudden, everything makes perfect sense.
[ agora, achei foi esta tua frase muito curiosa, “As autoridades espanholas, ancoradas num interessante consenso nacionalista, que conta com o apoio de políticos de quase todos os quadrantes e da imprensa mais influente, andam a negar a realidade(...)” This is definitely NOT politics as usual... ]
Com essa frase quero apenas dizer que, quando é a Espanha e a sua posição no palco das nações que estão em causa, os espanhóis de todas as estirpes unem-se e o interesse nacional passa a prevalecer sobre quase tudo o resto. De facto, Espanha é um dos países mais nacionalistas que conheço... Interessante é a maneira como a informação é filtrada de modo a branquear os pontos negativos e a exaltar os positivos. A imprensa, a começar pelo "insuspeito" e respeitado El Pais, trata a verdade procurando não melindrar os supremos interesses estratégicos de Espanha.
Eu percebi a tua frase, Miguel, o que achei extraordinário foi precisamente essa união entre as mais diversas estirpes de espanhois, politicos de todos os quadrantes e a imprensa, em principio, respeitada. Tudo para “bem da Naçao” – foi por isso que usei a frase, ” This is definitely NOT politics as usual” (pelo menos não é nada daquilo a que eu estou habituada).
Não conheço bem as “idiossincrasias” espanholas, mas acho difícil conseguirem ser ainda mais nacionalistas do que os americanos, essa união a que te referes só me lembro de a ver logo após o 11 de Setembro. “Politics as usual”, aqui, é cada politico, “jornalista” e comentador (“pundit”) puxar a brasa à sua sardinha. Enquanto que sectarismo/partidarismo é hoje visto como uma qualidade (a ordem do dia) “compromise” tornou-se sinónimo de fraqueza, diria mesmo um palavrão em certos sectores. What matters is to make the guy and the party in power seem incompetent. Doa a quem doer, custe o que custar. É por isso que o país está tão dividido: uns obtêm informação de ABC enquanto que outros so lêem e ouvem DEF. E é por isso que ninguém se entende. And that is why, from where I sit, what you describe is going on in Spain is such a foreign concept to me.
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