Curioso que recentemente esteja a ouvir banqueiros queixar-se de excessos de ganância, da injustiça de certos lucros, do abuso de putativa concorrência, da falta de controlo dos bónus astronómicos. Vejo insuspeitas criaturas e entidades a falar do capitalismo como se fossem de esquerda e se envergonhassem da cupidez. Uma espécie de mundo ao contrário... Os banqueiros, de repente, pedem disciplina,
regras, efectiva supervisão. Porque se estão a ver à beira do precipício,
vítimas da própria avidez. O que acontece é que os Estados e os bancos estão cada vez
mais indissoluvelmente ligados por causa do supremo valor da estabilidade financeira.
Com isso se privatizam ganhos e nacionalizam perdas. Bem sei que as acções dos
bancos têm vindo por água abaixo, mas o capital ainda vale alguma coisa e não
passa pela cabeça de ninguém que passe a negativo porque isso quereria dizer
falência técnica. A solvabilidade dos bancos é igual à solvabilidade dos
Estados. Por isso, o resgate dos bancos espanhóis é o resgate do Reino de
Espanha e dizer que, tratando-se apenas de um resgate de bancos dispensa o país
de condicionalidade macro-económica é enganador. Uma bolha de oxigénio não
assegura a sobrevivência. 100 mil milhões de euros para os bancos, canalizados
por intermédio do Estado espanhol, não tranquiliza ninguém e menos ainda os
detentores de dívida espanhola. Até porque essa dívida poderá vir a ter
prioridade sobre outra dívida, actual ou futura. Essa subordinação afugenta os
credores e leva os existentes a pedir taxas mais altas. Continuamos a cair pela ravina abaixo. Rajoy montou no avião depois do anúncio do resgate, orgulhando-se de um grande sucesso, para ver o jogo do Europeu Espanha-Itália e assistiu a um empate. Que premonição! Nesses dois países, contaminando-se mutuamente, decide-se a Europa...
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