quinta-feira, maio 17, 2012

A relva do meu jardim

O meu passatempo favorito? Nada do que se possa pensar... Simplesmente ver a relva do meu jardim crescer. Estender os olhos pelos poucos metros quadrados de verde à frente da porta da minha sala e achar que são um país, um continente, um planeta. Observar os movimentos de pássaros e gatos que aparecem sem convite e que lentamente passeiam pelo pequeno relvado à procura de um insecto suculento ou simplesmente em trânsito para outros planetas.

Deixar os sentidos descansar, parados no verde escasso, escapar à pressa dos dias, à gravidade dos problemas, mandar as ameaças e as crises à merda, desviar o pensamento para o verde da relva do meu minúsculo jardim elevado à categoria de calmante com efeitos imbatíveis.

A relva do meu jardim cresce silenciosamente, discretamente, seguramente, sem fazer mal a ninguém, sem disputar mais do que o meu esforço duas vezes por mês para a cortar. O que não è pouco, sobretudo quando chove e está calor, ingredientes de um crescimento mais vigoroso. O inverno inibe a exuberância do meu irrisório jardim. Não è preciso cortar a relva que fica petrificada e estáctica, rendida aos argumentos da geada e da neve.

“Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são. Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.” Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo. Pura e simplesmente Lindo. So' mesmo alguem com um coracao lindo e uma sensibilidade linda para escrever um texto destes.

E' por estas e por outras, Miguel. Por estas e por outras...