domingo, abril 29, 2012

Financiamento ou investimento?

Há pessoas com responsabilidade nos meios político e económico que dizem faltar financiamento para, finalmente, promover o crescimento. Os bancos continuam a obter liquidez através de depósitos, das operações de desconto junto do BCE e da venda de activos ao Estado (fundos de pensões, créditos municipais e outros). Esse dinheiro, porém, não seria destinado a financiar a economia mas, em vez disso, seria colocado junto do próprio BCE ou na compra de títulos de dívida pública a taxas suculentas. Os bancos teriam um excesso de zelo na gestão do risco de liquidez, mantendo montantes avultados de dinheiro, mais ou menos esterilizado, na expectativa de uma deterioração ainda mais acentuada das condições macro-económicas.

Este raciocínio parece-me só parcialmente correcto. Em primeiro lugar, porque um dos principais problemas da economia portuguesa é o endividamento excessivo, o qual, tautologicamente, não se resolve voltando a aumentar as dívidas dos agentes económicos... Estamos numa fase de desendividamento o que quer dizer poupar mais para reembolsar passivos do passado. Tão simples como isso! E pena é que tal se traduza em contracção da actividade económica. Idealmente o tal aumento da poupança deveria resultar de um aumento da produção doméstica mais do que proporcional ao aumento da despesa doméstica. Mas, não é isso que se passa. Está-se a tentar poupar reduzindo a despesa mais do que proporcionalmente à redução da produção...

Em segundo lugar, seria óptimo promover a produção através de financiamento de projectos sólidos dos pontos de vista económico e financeiro. Mas, onde se encontram tais projectos? Realizados por quem? Pelo sector público não seguramente, que não pode aumentar a dívida no imediato, nem tem uma estratégia coerente de investimento. Pelo sector privado, também não vislumbro iniciativas dignas de nota. As famosas PME que salvariam o país do desemprego e que aumentariam as exportações e substituiram as importações estão asfixiadas em dívidas e enfermam de proverbiais fraquezas estruturais que não se resolvem nalguns meses.
Acrescem a tudo isto duas circunstâncias de gestão igualmente difícil, se de todo possivel, ao nivel nacional: (a) contexto internacional que determina a procura externa dos bens e serviços domésticos e o comportamento dos mercados de capitais onde se decide a possibilidade e as condições de um regresso luso ao financiamento privado externo; (b) expectativas (ou confiança) dos agentes económicos (sobretudo dos investidores), porque a economia funciona muito na base de “animal spirits” (sempre Keynes...) ou intuição.

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