sexta-feira, dezembro 02, 2011

Conflitos

O mundo parece demasiado pequeno dentro do rectângulo da televisão.

Desfilam imagens de conflitos em diferentes regiões, linguas, côres, credos, raças, politicas. Simplesmente porque as pessoas, os grupos sociais, as nações têm interesses divergentes, porque a contradição é inseparável da vida. Porque a razão se mistura com a emoção, por vezes, com o fanatismo. A cegueira simplifica a realidade, por natureza, complexa.

A Europa parece uma panela de pressão sem válvula de escape. Ou se abre ou explode. A Europa atingiu uma maturidade insustentável, uma estabilidade decadente. São precisos rupturas, saltos em frente. Isso pode querer dizer guerra. Mas pode (e deve) também querer dizer discussão franca, sem tabús nem reservas. Como nas famílias, nos casais, entre amigos que falam tempo demais de trivialidades para evitar silêncios pesados ou disputas esclarecedoras. Melhor assumir os conflitos, falar deles de forma aberta para purificar as relações, eliminar mal-entendidos, denunciar interesses indevidos e regular interesses legitimos. Os antagonismos talvez ainda não tenham ultrapassado o limite do diálogo e da negociação, antes de se chegar à guerra. As cedências ainda parecem possiveis sem ameaçar coisas vitais.

Apesar de tanta boa intenção, a verdade é que o nacionalismo cresce e a solidariedade suscita condescendência, senão mesmo desprezo. As identidades nacionais, culturais, linguisticas fomentam o sectarismo e a intolerância. A defesa de interesses parciais atinge o paroxismo e põe em causa a cooperação necessária para manter projectos comuns.

De forma bem cínica: as pessoas, os grupos e as nações só cooperam, só cedem nalguns interesses quando ganham ou esperam ganhar globalmente, mais cedo ou mais tarde.

Talvez não fosse má ideia avançar no sentido dum "óptimo de Pareto" o qual corresponde a uma afectação de recursos a partir da qual não existe nenhuma reafectação possível que seja preferida por um grupo e não implique a perda de bem-estar de um outro. Assim sendo, a afectação de recursos correspondente a um óptimo de Pareto é aquela a partir da qual deslocações mutuamente benéficas não são possíveis, pelo que, não é possível melhorar a situação de um grupo sem prejudicar a situação de outro.

2 comentários:

Ilda B. disse...

Miguel, o "ótimo de Pareto" parece-me
a grande utopia. Estarei enganada?
Abraço.

Miguel disse...

Numa verdadeira união (económica, monetária e POLITICA) deveria mesmo ser assim. A não ser assim, teremos qualquer coisa mais parecida com COLONIALISMO, isto é: em que domina de forma inultrapassável a lógica do mais forte sem a mínima concessão a mecanismos de solidariedade. Só que, a médio longo prazo, o próprio colonialismo não sobrevive porque os mais fracos acabam por se revoltar e os mais fortes tornam-se por sua vez mais fracos...