quarta-feira, novembro 09, 2011

Por uma desintegração inteligente da zona euro

Uma das soluções para o imbróglio europeu seria uma desintegração inteligente e ordenada da actual zona euro. Tratar-se-ia de criar uma nova zona monetária em anéis concêntricos. O núcleo central seria formado pelos Estados que mantém um acesso fácil aos mercados de dívida (Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Áustria, Finlândia). O euro (à paridade actual face a outras moedas) permaneceria como moeda única nesse núcleo, servindo como âncora aos restantes anéis concêntricos.

Um primeiro anel incluiria [França, Bélgica e Eslovénia] com um euro2 desvalorizado inicialmente em [5]% relativamente ao euro e com uma margem adicional de flutuação de +/-[5]%.

Um segundo anel incluiria [Chipre, Malta, Eslováquia e Estónia] com um euro3 desvalorizado inicialmente em [10]% relativamente ao euro e com uma margem de flutuação de +/-[10]%.

Um terceiro anel incluiria Espanha e Itália com um euro4 desvalorizado inicialmente em [15]% relativamente ao euro e com uma margem de flutuação de +/-[10]%.

Finalmente, um quarto anel incluiria [Irlanda, Portugal e Grécia] com um euro5 desvalorizado inicialmente em [30]% relativamente ao euro e com uma margem de flutuação de +/-[10]%.

Um esquema deste tipo inspirar-se-ia no Sistema Monetário Europeu fundado em 1979 e que antecedeu a criação do euro, tendo atravessado períodos de diferente estabilidade e turbulência.

Para funcionar, a zona em anéis concêntricos não dispensa mecanismos de apoio monetário e/ou orçamental por parte dos membros do núcleo central e, ainda menos, um ajustamento das economias dos países dos anéis no sentido do equilíbrio das contas do Estado e das contas externas e sobretudo da convergência do crescimento económico.

A beleza da zona em anéis concêntricos consiste em recuperar um instrumento de política (a taxa de câmbio) para evitar a necessidade de fazer recair o esforço de ajustamento macroeconómico exclusivamente sobre variáveis reais num prazo muito curto, o que asfixia o crescimento. Por outro lado, o ganho de competitividade externa e a alteração dos termos de troca resultantes da desvalorização, diluiria o montante de transferências a pagar pelas economias do núcleo para manter as economias dos anéis dentro do euro no seu formato rígido actual. Essas transferências, como sabemos, podem assumir diferentes formas, desde reduções mais ou menos instantâneas de dívida até subsídios ao longo do tempo para assegurar a capacidade de serviço da dívida.

Portanto, muita gente teria a ganhar ou, pelo menos, a perder menos... E nem sequer se pode dizer que o euro acabaria ou que não se poderia um dia regressar a um único euro quando a convergência durável fosse adquirida e a governação macroeconómica da União Europeu fosse aperfeiçoada, incluindo com a introdução de federalismo fiscal e de políticas mais eficazes de promoção da convergência e da competitividade.

Sem comentários: