A Alemanha até está preparada a pagar mais para evitar o colapso do euro, mas quer ter uma palavra a dizer sobre como será aplicado o seu dinheiro nos países beneficiários. E aqui o que se joga é soberania. Os países periféricos, carentes de dinheiro pela situação para a qual foram arrastados por governos incompetentes, terão de aceitar que sejam os alemães a dizer qual o tamanho e funções do Estado, quais os investimentos mais ou menos prioritários, quais os direitos de reforma dos cidadãos, etc. Os alemães não vão continuar a passar cheques em branco… Por isso, fazem depender a sua contribuição financeira e tomada de risco, nomeadamente no âmbito dos eurobonds, da prévia alteração dos tratados que, na prática, lhes dê o poder de influenciar os orçamentos nacionais. Os outros países resistem e os alemães não “passam à caixa” e o impasse continua até à derrota final.
A França tem um papel central neste xadrez porque se forem a Alemanha e a França a controlar a Europa, a coisa ainda é concebível... Porém, se a fraqueza da França se acentuar, a alternativa será apenas a Alemanha a controlar a Europa, por conseguinte, a controlar também a França, e não estou a ver que isso seja imaginável e ainda menos compatível com os demónios da História recente. Portanto, o futuro do euro passa pela geo-estratégia da velha Europa, por decisões políticas cruciais, pela balança de poder entre países que há menos de 70 anos se matavam e que deixaram de o fazer no quadro da Comunidade Europeia. Se a França perder o rating (em sentido largo do termo, não necessariamente no sentido das famigeradas agências) temo o pior. A França não se pode desligar ainda mais da Alemanha em termos de poder politico e económico. O esforço patético que o pequeno Sarkozi anda a fazer para parecer importante é um acto de desespero porque sabe que não o é e que se arrisca a sê-lo cada vez menos.
Quanto aos outros países... a Inglaterra está-se nas tintas e verdadeiramente nunca participou a sério no jogo continental; os outros dividem-se em dois grupos: o dos que se colam à Alemanha e o dos que lhe obedecem para ter a sua clemência e o seu dinheiro (caso de Portugal).
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