sexta-feira, outubro 14, 2011

À volta do Orçamento do Estado para 2012

O Governo está desesperadamente a correr atrás de uma crise que se reproduz de forma amplificada, tentando mostrar obediência às regras impostas para continuar a aceder a financiamento externo, sem o qual o Estado entrará em colapso.

As medidas vão sempre no mesmo sentido: reduzir o défice público e transferir o máximo de recursos para o sector privado exportador, comprimindo ao máximo as importações (através da contracção do consumo e do investimento). O aumento do tempo de trabalho a salário constante e o aumento do IVA são medidas equivalentes à desvalorização cambial que não se pode fazer por causa do espartilho do euro. A ideia de redução da TSU (financiada com aumentos de IVA) ía no mesmo sentido, quer dizer: reduzir os custos unitários do trabalho para, alegadamente, melhorar a competitividade das exportações.

O problema é que a quebra da procura interna e externa provoca uma espiral recessiva acentuada por problemas de financiamento da economia. As virtuosas empresas exportadoras não conseguem crédito. E não existem outros meios de financiamento… não obstante os apelos de governantes para que as empresas recorram ao mercado de capitais.

Os bancos - ciosos de manterem o controlo das suas operações - tentam convencer o Estado a pagar o que lhes deve como alternativa a uma sua entrada no capital. Porque o problema dos bancos seria, não de falta de capital, mas de falta de liquidez. E ainda bem que os depósitos não fogem… Só as empresas do sector empresarial do Estado devem aos bancos qualquer coisa como 17000 milhões de euros. E os bancos prometem que tal dinheiro seria injectado no sector privado da economia…

O que acontece é um círculo vicioso que empurra a economia para o abismo: défice e dívida => cortes na despesa e subida de impostos => contracção da procura => contracção da oferta => menor capacidade de pagar dívidas e impostos => agravamento do défice e da dívida => mais cortes na despesa e subida dos impostos…

Até porque a eficácia marginal dessas medidas é decrescente!!!

O que há a fazer é:

- pôr em prática ao nível europeu um pacote de saneamento financeiro de emergência para evitar ruptura de liquidez em pontos nevrálgicos do sistema que possa produzir efeitos de contágio incontroláveis;
- estimular a procura, mais uma vez ao nível europeu, ou seja: fazer o oposto das medidas de austeridade em vigor.

O problema fundamental é que tudo isso supõe acelerar o federalismo o que implica, actualmente, pôr Alemães, Holandeses e quejandos a assumir despesas, perdas ou riscos doutros países. E só o farão se lhes custar mais (no imediato ou no futuro) não o fazer…

Sem comentários: