quinta-feira, outubro 20, 2011

Governos ou repartições?

A ultrapassagem do poder político democrático pelos poderes económicos é uma das maiores anomalias actuais dos países desenvolvidos. Os políticos deixaram de ter margem de manobra, sobretudo quando as coisas correm mal, face à pressão dos poderes económicos. E o maior drama é que as coisas correm mal por causa dos políticos e da sua permissividade relativamente aos poderes económicos quando as coisas parecem correr bem, gerando os germes das crises subsequentes. A legitimidade popular da política, a natural utopia dos políticos rendem-se ao pragmatismo, à força da gravidade dos interesses económicos. E contra factos não há visão que resista. Os projectos de sociedade vergam-se perante o esmagamento dos números. A política rendeu-se ao dinheiro que se comporta de forma cada vez mais organizada e global. Ou seja: a política perdeu poder. Assistimos à eutanásia da política. Que é como quem diz: os cidadãos comuns perderam o protagonismo que deveriam ter, designadamente, através dos seus representantes eleitos democráticamente. As decisões mais importantes são tomadas sob a pressão de irremediáveis urgências, são guiadas por corporações cuja única legitimidade é o dinheiro. E tudo isto desequlibra a repartição dos custos e dos benefícios. A lógica da sustentabilidade do sistema entra em clamorosa contradição com qualquer vontade de mudança ou de restabelecimento de justiça.

Dito isto, o poder político nunca é virgem em relação aos poderes económicos. A total autonomia da política em relação ao dinheiro é uma ficção. A politica representa sempre interesses, serve-se deles para executar determinados projectos. Contudo, normalmente, deverá preservar a sua proeminência, isto é, deverá manter o poder de dizer não em última instância, de impor a sua vontade em nome de determinada legitimidade (por exemplo, do povo em democracia, do nascimento em monarquia). Os franceses falam de “droits régaliens”. Ora, o que se passa nos últimos tempos é uma inversão deste modelo em que a última palavra pertence aos detentores do poder económico, em que o poder político se limita a executar técnicas (ditadas pelos grandes interesses) mais do que políticas.

A situação é ainda mais dramática no caso de pequenos países no âmbito de uma união económica e monetária. Porque, principalmente em situação de crise, perdem soberania para os grandes países que, por sua vez, a perdem para os grandes interesses económicos. Ou seja: o poder político dos pequenos países subordina-se ao poder económico desses mesmos países, ao poder político dos grandes países e, portanto, ao poder económico que também influencia estes últimos. Não se trata de governos mas de repartições... para desgraça dos respectivos cidadãos, entalados numa teia de interesses superiores, mais ou menos escondidos e impiedosos.

1 comentário:

Anónimo disse...

(...)I am fairly confident the Euro is going to crash(...)the market is toast(...)most traders(...)don't really care how they are going to fix the economy(...)personally(...)I go to bed every night and dream of another recession(...)THE GOVERNMENTS DON'T RULE THE WORLD, Goldman Sachs rules the world(...)in less than 12 months the savings of millions of people is going to vanish.": http://www.bbc.co.uk/news/business-15059135

E depois ha isto (embuste/brincadeira de mau gosto?):http://www.npr.org/blogs/thetwo-way/2011/09/27/140843111/no-hoax-bbc-says-alessio-rastani-is-a-trader-who-wants-a-recession

"I am a banker doing God's work" --> (Lloyd Blankfein,Goldman Sachs) E "We have to tolerate the inequity as a way to achieve greater prosperity."-->(Brian Griffiths, Goldman Sachs):http://blogs.wsj.com/marketbeat/2009/11/09/goldman-sachs-blankfein-on-banking-doing-gods-work/