quinta-feira, julho 07, 2011

Agências de rating

Gozando claramente de uma posição de oligopólio e de alguns conflitos de interesses, as agências de rating Fitch, Moody's e Standard & Poors fazem a magia de quantificar uma coisa tão subjectiva e complexa como o risco, convertendo a possibilidade de incumprimento numa classificação standard. Os participantes no mercado do crédito à escala global, incluindo entes públicos e privados, converteram-se a essa simplificação e passaram a fazer depender os seus direitos e deveres contratuais da subida ou descida das ditas classificações. Por exemplo: se o rating do devedor passa abaixo de um nível definido no contrato, o credor tem direito a mais juros, a outras garantias ou a pedir o reembolso antecipado; a entidade atingida pelo "rating event" deixa de ser aceitável para participar em determinadas transações; etc. Portanto, ao entrar nessa lógica, devedores e credores aceitam delegar em entidades terceiras a apreciação do risco, acabando por sofrer as consequências de tal externalização. Deslindar esse sistema é agora tudo menos fácil: implicaria renunciar a direitos contratuais, assumir plenamente funções subcontratadas às agências. Nada que não se possa fazer, mas implica entendimentos muito vastos entre muitas entidades em muitos sítios ao mesmo tempo e a substituição do sistema de rating actual - de mais uma troika (a das principais agências...) - por outro baseado em agências alternativas ou na disseminação e não-estandardização da avaliação de risco. Por outro lado, é preciso não esquecer que, apesar de terem cometido erros clamorosos (casos Enron, crise asiática, sub-prime), as agências de rating, normalmente, limitam-se a chamar os participantes no mercado do crédito à realidade, a chamar as coisas pelo seu nome, a alertar para situações de legítima preocupação, a dizer de forma putativamente científica o que já muitos sabem ou adivinham. Portanto, não se deve matar o mensageiro por transportar más notícias que não são da sua responsabilidade... pese embora o efeito de "self-fulfilling profecy" que algumas vezes geram as agências e de aceleração dos movimentos dos preços nos mercados. Os desequilibrios gravíssimos da economia portuguesa não foram criados pelas agências: elas limitam-se a dar-lhes eco... provavelmente exacerbado, mas trata-se só de um termómetro não da temperatura. E temo que a temperatura vá continuar a subir e nós a queixar-nos do termómetro actual.

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