domingo, maio 08, 2011

E tive vontade de lhe dizer qualquer coisa novo, mas não havia nada de novo. Só o costume, banalidades, o ruido e a poeira dos dias que se seguem rumo ao fim, como um rosário de preces estafadas e sem consequências. Estava deitado. Olhou-me fixo, com umas olheiras certeiras a dizer que não desistia, apesar do frio e da chuva da Primavera. Respirou fundo à procura de força, esboçando um sorriso para disfarçar a flacidez do corpo e da alma. Não precisou de dizer nada para além de "chega-me o jornal". Queria claramente outras notícias, um golo no sofrimento. Mas o jogo continuava empatado, no melhor dos casos, à espera de prolongamento. As persianas estavam em baixo, produzindo uma obscuridade clemente. Abandonou o jornal. Fechou e abriu os olhos, muito lentamente, à procura de uma pausa na dor e mandou-me um olhar de quem diz "não te preocupes, obrigado, agora fico bem". Disse "até breve" e fechei a porta do quarto com heroismo em direcção a outras urgências e com o coração embrulhado em fatalidade.

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