A obesidade infantil é uma prova eloquente de que qualquer coisa não vai bem com a criança e sobretudo com a relação entre a criança e as pessoas que dela se ocupam, normalmente, os pais. Pode ser um sinal de acontentamento fácil das pulsões e vontades da criança, revelando ausência ou fraqueza de autoridade, demissão relativamente à imposição dessa coisa terrivel mas incontornável que é a privação e a recusa. A permissividade em relação a comer mal ou demais pode perversamente dar aos pais a impressão de estar a dar às crianças uma prova de afecto, claramente errada, mas que pode servir como uma espécie de tranquilizante (para os pais) e de vitória (para os filhos). Pode também simplesmente significar desleixo, incúria, desistência, ignorância.
Sempre sobre pais e filhos... vejo nos jardins putos e criancinhas de tenra idade a andar de bicicleta, triciclo ou trotineta a uns escassos 50 cm do chão com a cabeça hiper-protegida por impressionantes capacetes com desenhos dos heróis que por aí andam a encher os ecrãs. No meu tempo (que foi certamente o meu tempo e não o dessas criancinhas, nem talvez dos pais delas), os putos andavam de bicicleta à maluca, pela estrada, sem capacetes nem joelheiras. De vez em quando, partiam a cabeça, rasgavam as calças e exibiam com orgulho arranhões e crostas nos joelhos e noutras partes do corpo. Não me consta que alguém tenha morrido ou ficado estropiado. A obsessão pela segurança e pela protecção contra todos os riscos frequentemente esconde este simples facto de que não existem capacetes contra a falta de presença e de afectos. E dá-me a impressão de que nos tempos actuais esse é o principal "acidente" de que as crianças são vítimas.
Sem comentários:
Enviar um comentário