domingo, março 06, 2011

O caso da Líbia

A especificidade e a complexidade da situação na Líbia são devidas a dois factores essenciais: um ditador que controla recursos colossais e que já passou o limiar da loucura há muito tempo; um país feito de 4 tribos principais que Kadhafi conseguiu conciliar através de uma partilha mais ou menos consensual de benesses e privilégios. O contágio da revolta em países vizinhos levou à ruptura desses equilíbrios tutelados por uma personagem grotesca. E o país pode transformar-se numa espécie de Somália, isto é, controlado por bandos armados ligados a certas tribos que disputam violentamente o território entre si e que tornam impossivel um governo central, a ordem e a legalidade. Neste contexto, falar em liberdade e democracia, infelizmente, soa a falso. Falemos, em vez disso, de tribalismo e de chefes tribais.

Inesperadamente, as afirmações do filho de Kadhafi denunciando a ingenuidade de olhar para a Líbia como se olhou para a Tunísia ou para o Egipto adquirem alguma credibilidade. Segundo ele, dadas as estruturas tribais, a democracia à moda ocidental seria uma ficção perigosa e impraticável na Líbia.

Também não deixa de ser curioso que os países do norte de África de colonização italiana têm todos esse tipo de características semelhantes. Itália, Etiópia, Somália...

E durante décadas, os países ocidentais mais não fizeram do que aceitar pragmaticamente essa "anomalia" para poderem usufruir de petróleo e gaz e para que a população pobre continuasse bloqueada nas suas fronteiras por um louco ditador, permitindo moderar a fuga através do Mediterrâneo para a Europa da liberdade e da abundância.

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