quarta-feira, janeiro 26, 2011
Humana malvadez
Há quem ache que, havendo regras claras e justas, as pessoas naturalmente as cumpririam. Ninguém tentaria tramar ninguém, armando-se em carapau de corrida, manhoso ou chico-esperto. As pessoas seriam ordeiras, respeitosas, dignas, honestas e transparentes. Num mundo assim, a tranquilidade reinaria, a concorrência seria redundante ou, pelo menos, pacífica, a criatividade seria reconhecida espontâneamente, sem disputas nem invejas, a superioridade seria aceite sem traumas, a inferioridade seria suplantada pela humanidade, as cotoveladas seriam apenas tema de anedotas. Mas, o mundo nâo é assim porque as pessoas não são assim tão bondosas. As pessoas não são anjos nem demónios. Sâo só pessoas, tão malvadas quanto humanas. E depois há o efeito matilha porque a humana malvadez em grupo amplia os conflitos, provoca ruido. Provoca guerra no limite das agressões quotidianas mal orientadas. É chato chegar à resignaçâo perante a evidência da natureza humana e do modo como as pessoas se comportam em sociedade, sobretudo, nestes tempos de individualismo, materialismo e hedonismo. Mas esse realismo (que se pode transformar em cinismo...) constitui uma prova de maturidade e de sabedoria. Seguramente, de resistência à hostilidade ambiente e à incompatibilidade entre valores individuais e colectivos.
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