As revoltas que se estão a espalhar nos países do norte de África e do Médio Oriente têm vários e importantíssimos significados, entre os quais gostaria de destacar os seguintes:
• São os jovens os principais protagonistas, com educação média ou superior e acesso a novos meios de comunicação global (facebook parece ser o principal instrumento de promoção das acções de rua).
• Os pressupostos de que aquelas populações não teriam cultura, civismo e iniciativa para participar num sistema democrático “de tipo ocidental” ou de que o islamismo implicaria a aceitaçâo “tranquila” da autocracia, estão a cair por terra.
• Os Estados Unidos e outros países ocidentais têm sido coniventes com regimes ditatoriais e corruptos que têm permitido nas últimas décadas alguma estabilidade numa região estratégica onde se concentra uma grande parte das reservas de petróleo mundiais.
• A transição para regimes mais livres e pluraristas é tudo menos fácil porque as forças de oposição são espontâneas e desorganizadas, não dispõem de estruturas para exercer o poder; portanto, as alternativas imediatas são o caos ou a tomada do poder por forças militares cujas intenções de assegurar uma rápida transição para a democracia são duvidosas.
• O poder mais difícil de transferir será talvez o económico, concentrado nas mãos de apaniguados dos regimes em crise ou de companhias estrangeiras. A ruptura do sistema produtivo arrastará consigo o agravamento das condições de vida.
• O risco de ameaça de grupos radicais islamistas parece-me baixo por causa da larga, difusa e espontânea base social de apoio à revolta, liderada por jovens que sofrem particularmente com o desemprego associado às crises económicas que têm assolado estes países.
• A situação questiona uma série de equilíbrios precários (ou de desequílibrios até agora mais ou menos geríveis) entre pivots regionais como Israel, Palestina, Libano ou o Irão.
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