domingo, novembro 28, 2010

Os preservativos das finanças e a impotência da política

O que se passa basicamente é uma guerra entre a oligarquia da finança internacional, que se comporta segundo uma lógica clara e implacável, inserida num sistema de mercado que gravita em torno da maximização do lucro (e isso não tem nada de criminoso ou hediondo...) e governos que tentam regular a economia na base da sua legitimidade democràtica plasmada, por exemplo, na parte económica das Constituições. Os financeiros não provocam os fundamentos das crises - limitam-se a tirar o máximo partido dos erros dos políticos, os quais pretendem utilizar o mercado "à la carte". O mercado pode tornar-se uma besta impiedosa e isso faz parte da sua natureza. Os politicos não podem tecer loas ao mercado, enaltecendo apenas o seu lado benigno, quando os ventos sopram de feição, e ignorando o seu lado "perverso" que amplifica as crises sem quaisquer escrúpulos. O desemprego pode ser óptimo para um especulador porque reforça as suas perspectivas de lucro num contexto de baixa de preços. A falência de um governo pode ser uma benção porque permitirá comprar activos ao desbarato que depois poderão se vendidos com mais-valias consideráveis. Depois vêm os arautos da regulação, ou seja: bastaria que os governos enquadrassem bem os mercados, de maneira a evitar os seus excessos, retendo apenas as suas virtudes. Mas sabemos em que é que isso tem dado: burocracia, incentivo ao incumprimento, criatividade nas fugas, adulteração dos próprios mecanismos em que se baseia o funcionamento do mercado. Então, passa-se à chamada auto-regulação que me faz lembrar as recomendações da Igreja para lutar contra as doenças sexualmente transmissíveis: abstinência! Ora, tal como no sexo, também no dinheiro, o pecado é demasiado tentador e até o Papa se parece render a essa evidência, aceitando a utilização do preservativo... em casos especiais. A auto-regulação é como a abstinência, a regulação envergonhada é como o preservativo... em casos especiais.

O que está em causa é uma disputa entre poder económico (por natureza oligárquico) e poder político (supostamente democrático) num terreno de jogo em que o poder político tem feito crescentes concessões ao poder económico, porque acredita na cooperação deste último para conseguir objectivos políticos. Ou seja: os politicos estão nas mãos de investidores, banqueiros e empresários porque acharam que o interesse público seria compatível com a prossecução de certos interesses privados. Mas, este é um debate velho e fundamental da filosofia e da economia política. Infelizmente há muito pouco gente, sobretudo ao nível de quem toma as decisões, com cultura, capacidade, vontade ou tempo para enfrentar esse debate. E assim, os politicos continuam a saltar para a frente, manietados por um sistema capitalista de poder cada vez mais concentrado, sem problemas existenciais, convencidos de que a gestão das sociedades é uma ciência exacta, uma questão técnica, virgem de ideologias.

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