Este agosto são rosários de incêndios, contados até à última gota de paciência ou de curiosidade mórbida. Mais um bombeiro morto e o povo agarra-se ao ecrã, extasiado com as lágrimas vertidas por familiares, camaradas, amigos, desconhecidos e basbaques. As sirenes espalham ainda mais calor, chamas, angustia e adrenalina. Os jornalistas têm os orgasmos possíveis em período de evidente falta de notícias.
É todos os anos a mesma coisa… apesar dos planos da protecção civil e dos canadair e de criaturas com ar de Rambo das Terras do Bouro e linguagem pirotécnica. E há ministros e comandantes e primeiros-ministros e presidentes que não valem nada perante altas temperaturas, secura e alguns malucos e malfeitores. E há populares desgraçados que não dormem a olhar para as labaredas que sobem e descem os montes, tocadas por ventos caprichosos e que se aproximam de casas e outras propriedades em que se cristalizam vidas de heroísmos anónimos que parecem pequenos em relação ao heroísmo de alguns dias dos “soldados da paz” (!) que combatem, sabe deus que demónio, alagados em suor, perigo, cansaço e excitação.
Depois virão o frio, as chuvas e a calma de outros “incêndios” mais timoratos e cinzentos. E ficamos à espera de mais um Verão com os mesmos ecrãs a transbordar de actos de bravura e de resignação. E passamos de automóvel à beira das matas defuntas, sentindo uma raiva banal e impotente, deitando pela boca fora “filhos da puta” sem saber ao certo quem estamos a insultar. Talvez o destino ou a santa providência ou sacanas sem rosto.
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