segunda-feira, agosto 30, 2010

Senhora do Ó

A emancipação das mulheres quer dizer também participação activa no mercado de trabalho, ambições profissionais, carreira. Os obstáculos são mais do que muitos, levantados sobretudo por homens, num mundo tradicionalmente dominado por homens. [Deixo de lado debates fecundíssimos sobre coisas como a descriminação positiva.] A verdade é que as mulheres têm de ser muitas coisas ao mesmo tempo, são objecto das mais caleidoscópicas exigências e expectativas. Apesar do seu talento, supostamente inato, para a diversidade (ao contrário dos homens que seriam excelentes numa só coisa de cada vez...), as mulheres caem muitas vezes no provérbio: "quem muitos burros quer tocar, algum fica para trás". Durante muitos anos, as mulheres, mais cultas e urbanas, apostaram na profissão e isso contribuiu de alguma forma para fenómenos como o crescimento do divórcio e a redução da natalidade. [Estou a simplificar, a omitir vários passos, mas siga o discurso.] Pois bem, acho que agora se está a assistir a uma reversão de tendência, e ainda bem. Isto é, as mulheres (como muitos homens) estão a fartar-se dos mitos do sucesso, da competição desbragada, da miopia de certos objectivos, do preço a pagar pelo sucesso-versão homologada pelo neo-liberalismo. Reagem sem passar pelos sindicatos, sem fazer revoluções barulhentas. Reagem através da maternidade, recuperando os valores da família e da procriação. Mandam o sistema àquele sítio, aproveitando ainda por cima os mecanismos politicamente correctos de descriminação positiva e de incentivo à natalidade. Bem hajam! O que chateia são os grunhidos discretos dos chefes que se queixam, porque assim é difícil planear e porque as famílias, as crianças e ser mulher têm um custo... para o sistema e para as próprias mulheres! Tudo isto me ocorreu por causa da quantidade de barrigas protuberantes que crescem por aí. E ainda bem... desde que sejam felizes!

2 comentários:

EJSantos disse...

Excelente texto! Gostei muito.
Cumprimentos

Miguel disse...

Obrigado.