Os restaurantes estão cheios, passam Porsches, Ferraris e Maserattis, as lojas de luxo brilham de novas, os hotéis de 5 estrelas estão cheios. Não estou no Mónaco ou em Beverly Hills. Estou na Avenida da Liberdade em Lisboa.Crise. Qual crise? Passa-me pela cabeça que esta conversa sobre o risco de falência dos países e dos bancos só pode ser uma grande treta. Uma espécie de cabala, como a gripe A ou a nuvem de cinzas da Islândia, orquestrada por qualquer agência mundial dos interesses ocultos. Mas, essa teoria conspirativa depressa sai do meu pensamento. Existe talvez conspiração mas é mais prosaica: a conspiração dos ricos contra os pobres.
Isto está mesmo mau, mas os ricos escapam da crise ou aproveitam-se dela para ficar ainda mais ricos, enquanto os pobres aguentam com a cura dos erros patrocinados pelos ricos. Isto não é demagogia. São factos sustentados por estatísticas: das vendas de bens de luxo, da pobreza, do desemprego.
E tudo isto pode mesmo passar-se sem uma colaboração "voluntária" dos governos, que aplicam políticas que agravam a injustiça "porque sim", porque não pode ser de outra maneira à luz dos sacrossantos princípios da ciência macro-económica, completamente virgem de ideologia. Governos que renunciam à política e se submetem à tecnocracia e ao pensamento único são governos capados.
Mas, não se esqueçam os ricos de que sem pobres não podem continuar ricos, pelo que, devem, pelo menos, assegurar a sobrevivência dos pobres e a sua capacidade de trabalhar. A melhor política dos ricos é aquela que extrai o máximo de ovos da galinha sem a matar. O mal-estar máximo (ou o bem-estar mínimo) dos pobres que permita a subsistência do sistema, ou seja, que não leve à crise social aberta que pode mesmo descambar na violência. Não me interpretem mal: aqui não há bons e maus, não se trata de ser invejoso ou miserabilista, de demonizar o sucesso. Ou coisas do género. Trata-se de SOCIEDADE, de permitir que as pessoas vivam bem juntas, preservando a paz e a dignidade humana. Quase apetecia referir muito simplesmente os princípios da Revolução Francesa (igualdade, liberdade, fraternidade). Ninguém tem culpa de ser rico ou de querer ser rico. O problema é a conciliação de métodos e objectivos individuais (ou de grupo) com a sustentabilidade do tecido social, como um todo. Há valores que devem superar a eficiência, a competitividade e o sucesso. A economia não pode ser um "deus ex-macchina", de que, aliás, pode vir a ser vítima. Que eu saiba, é do interesse do próprio capitalismo defender a justiça, a solidariedade, a ordem e a legalidade. Pelo menos numa sociedade dita democrática. Em ditadura é outra coisa. Mas, como se sabe, as ditaduras acabam mais tarde ou mais cedo porque a pulsão libertária dos seres hmanos é irresistível. Sou dos que crêem firmemente que a Humanidade caminha inexoravelmente, desde a noite dos tempos, em direcção ao BEM, no meio de tanto mal cuja sofisticação não tem limites.
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