Gastou-se muito mais do que se produziu, o que só foi possível com dívida (ou com subsídios, mas esses, graças a deus, não se devem devolver...), ou seja, com importação de poupança.
O endividamento foi estimulado pela descida acentuada das taxas de juro e pela ausência de risco de câmbio na sequência da nossa entrada no euro.
Essa dívida serviu para financiar coisas que não geraram suficiente rendimento, basicamente, consumo e investimento pouco rentável.
Agora, sem poupança que chegue para reembolsar a dívida, tem de se recorrer a nova dívida para pagar a dívida velha.
Mas, os credores só nos emprestam de novo se acharem que, no futuro, teremos capacidade de reduzir a dívida, ou seja, de a reembolsar com poupança.
Se tiverem dúvidas (como parecem ter as agências de rating), não emprestam ou emprestam a taxas de juro mais altas.
Mas, se não emprestarem ou emprestarem a taxas demasiado altas, estão a provocar um incumprimento de que sofrem os mesmos credores.
Podemos ser caloteiros, mas a seguir somos verdadeiramente forçados a viver unicamente com o que produzimos.
"Caloteiros" é uma palavra politicamente incorrecta para designar a situação em que nos encontrariamos se houvesse "reestruturação da dívida", ou seja, moratória, desconto ou perdão do serviço da dívida, etc.
Por isso, talvez seja melhor começar desde já a poupar para reduzir a dívida para níveis que a tornem sustentável, ou seja, refinanciável.
Mas, poupar quer dizer produzir mais e/ou gastar menos.
Dado o crescimento negativo (ou insignificante) da produção no curto e médio prazo, não resta outra hipótese senão cortar nas despesas, devendo começar-se por aquelas que geram menos produto.
E não se devem negligenciar os custos sociais e o impacto sobre a distribuição do rendimento dessas medidas.
Ideal seria aumentar o crescimento potencial da produção. Assim, poderiamos gerar poupança sem cortar (excessivamente) na despesa.
Mas, crescimento da produção quer dizer produtividade, mão-de-obra qualificada, capacidade para vender ao estrangeiro, etc - essas coisas estruturais que não se mudam há anos e que não mudarão com uma varinha mágica...
É mais fácil mudar de governo do que de povo.
E há cada vez mais povo a contribuir para resolver o problema... com os pés, isto é, emigrando.
Talvez não mandem é tantas remessas como faziam os emigrantes da vaga dos anos 1960.
Até porque são muitos os que têm qualificações médias ou superiores...
Se se fossem embora e mandassem o dinheiro, ajudariam a reembolsar a dívida, o que seria óptimo!
PS:
Estou a supor que nos mantemos no euro e que, portanto, uma desvalorização da moeda não poderá ser utilizada para melhorar a nossa posição relativa face ao exterior.
Outra hipótese (que poderia ser também provocada pela desvalorização) seria a inflação, desde que as receitas nominais dos devedores crescessem mais do que o que têm a pagar, também em termos nominais.
Outra hipótese ainda seria vender os anéis, isto é, pagar a dívida através da cedência aos credores externos de património nacional, por exemplo, através de privatizações.
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