Por detrás dessa fachada socialmente correcta, porém, não senti verdadeiras emoções. Tudo contido, desenhado, cosmético. Fiquei com medo de que aquelas pessoas fossem assim sempre, de verdade, não apenas naquela ocasião de visitas. De que fossem uma espécie de vulcões de erupçao eternamente adiada. De que escondessem um desarranjo e uma maldade ainda piores do que os das pessoas que ousam mostrar indicios dessa maneira humana de ser. Veio-me à memória um filme que vi há vários anos: "Festen".
E daí pus-me também a pensar que deve haver qualquer coisa de cultural (ou de etnológico) na maneira como senti aquele ambiente e que os olhos de quem vê contam (e como...) naquilo que se vê. A ficção de que somos todos iguais, europeus e universais, de que as barreiras culturais e linguisticas, os estereótipos, não devem resistir à tolerância e à abertura de espírito, tudo isso, de repente, ficou relativizado e apercebi-me de que há zonas intransponíveis sobre como se é e como se está e como se sente. E daí voei até um livro excelente de Amartya Sen (Identidade e Violência) cuja mensagem fundamental é a de que, apesar disso, basta olhar para as pessoas na sua totalidade (e não as suas características convencionais) para poder conviver em paz com gente de todas as estirpes. Dito isto, parece-me mais a excepção do que a regra que se estabeleçam relações mais profundas e duráveis entre pessoas de matrizes (culturais, religiosas, linguísticas) "excessivamente" distintas. Mas, talvez seja o meu provincianismo portuga a falar...
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