Nos últimos tempos, tenho ouvido falar em soluções drásticas para a crise nacional que, francamente, me deixam preocupado, não tanto pela praticabilidade das mesmas, que me parece irrisória, mas pelo facto de tais ideias poderem sequer passar pela cabeça de pessoas que considerava avisadas. Trata-se de sugerir que alguém (ou um pequeno grupo) providencial pudesse tomar as rédeas do poder, através de um golpe de Estado mais ou menos palaciano, impondo uma lógica nacional e progressista num país à deriva e exposto ao opróbio da corrupção e da ausência de um mínimo de consenso relativamente a áreas fundamentais, como a Justiça, que andaria pelos canos de esgoto de uma democracia doente. Ou seja: um superior interesse nacional (vá-se lá saber interpretado por quem e com que critérios) aconselharia a uma derrogação da democracia. E, prosseguindo com a tese, até haveria acolhimento popular para tal acção patriótica. Largas camadas da população, vilipendiadas e cansadas do desnorte dos nossos dirigentes medíocres e corruptos, democráticamente eleitos, aderiria espontâneamente, com fervor, a esse movimento que poderia ter a sua génese numa mega-manifestação, espécie de "Fonte Luminosa" (de outros tempos e vontades) reeditada ao contrário...
Acho tudo isto triste e patético. A título de (mau) exemplo: a Itália já atingiu um grau bastante mais avançado de degradação democrática sem que isso tenha levado à ressureição de Mussolini... pese embora as semelhanças com Berlusconi e a alegre convivência da "democrazia" com a "malavita" do mais refinado nível. A itália não precisa de golpe de Estado porque desde há muito não tem um autêntico Estado... Auto-governa-se com a criatividade que se lhe reconhece, às costas de cidadãos mais ou menos honestos, na sua maioria fascinados pelo modelo de sucesso chico-esperto do seu Primeiro-ministro.
Sem comentários:
Enviar um comentário