Pois... as eleições autárquicas...
A distribuição de benesses (democráticas...) ao domicílio. O voto em quem distribui bilhetes do Tony Carreira, em quem ajuda os amigos com uns ligeiros entorses da lei que até podem dar 7 anos de cadeia. E tantas, mas mesmo tantas possibilidades de recurso de sentenças "injustas". E a Mariazinha que botou no Sr Doutor porque sim, porque é boa pessoa e fez muito pela gente lá da terra. O jardinzinho onde as crianças brincam aos domingos de sol, tão bonito no dia da inauguração e que mais ninguém rega ou cuida, que vai ficando degradado até parecer um matagal de esperanças efémeras. E a biblioteca toda engalanada que continua às moscas porque a gente gosta mesmo é da bola e do Quim Barreiros. Literatura só se for o "Record" ou a "Maria". E um alvará para construir onde dá jeito, mas onde não se devia. E o meu primo que anda há tanto tempo à procura de emprego, coitado! Fez as Novas Oportunidades a pensar em tornar-se jovem empresário e continua na esplanada do café da terra a beber cerveja sem conta nem termo. E o asilo para velhos onde se vai parar sem apelo nem agravo com a benção do Sr Prior porque, quando se é velho, se dá trabalho a mais para quem continua a fazer pela vida. E a estradinha vistosa, com tapete de alcatrão e tudo, que leva onde dá jeito e que faz valorizar o terreno da malta amiga. Que bela urbanização onde o Sr Eng° anda a fazer uma "bibenda" de se lhe tirar o chapéu! Só a senhora dele é que parece mais decorada e rechonchuda que uma árvore de Natal... sem ser Natal, que Deus Nosso Senhor nos perdoe. E depois as feiras medievais e as festas das tasquinhas onde a gente se regala de chouriços, broa e água-pé. E as chico-espertices para driblar a dívida, manter a água a preço da chuva e tramar o orçamento do Estado. Quem vier por último que feche a porta! Que paguem os ricos. No entretanto, fartámo-nos de fazer rotundas com estátuas que ninguém compreende e de plantar semáforos que ninguém respeita.
Não se queixem do poder local, porra! É aí que se resolvem os problemas e sobretudo que se fabricam os problemas que são nossos, só nossos. Da gente. Não daqueles senhores de Lisboa, ao quentinho, na Assembleia, longe do povo. O poder "de proximidade", como lhe chamam os franceses, esses criadores de belas expressões de lucidez sociológica e de rigor cartesiano. Inventaram também, para além do queijo camembert, o adjectivo "cidadão".´É muito ou pouco "cidadão" participar na política do nosso município? Claro que é muito. É muitíssimo! É aí que o comum dos mortais pode exercer alguma influência, participando nas listas de candidatos à Junta ou à Câmara. Indo às assembleias municipais queixar-se da cor dos esgotos que correm a céu aberto ou dos suspeitos sinais exteriores de riqueza do vereador. O gajo apareceu de repente com um grande Mercedes e conhecem-se-lhe amantes como as contas de um rosário da Senhora de Fátima. Aquilo não vem só do ordenado da Câmara, apesar de já lá estar há uma porrada de anos. Sabe Deus... Fala-se em dinheiro das obras por baixo da mesa, em droga. Até em putas... O Senhor nos proteja que a democracia está entregue ao diabo. Mas, é bonito de ver o nosso Presidente ao domingo, antes do almoço na casa dos sogros, a passear na praça e a distribuir cumprimentos e confidências entre os caríssimos munícipes e a prometer empregos à rapaziada e subsídios aos pobrezinhos. E o "Correio da Manhã" debaixo do braço dá-lhe outra gravidade. E o vereador do lixo a controlar metodicamente a capacidade dos respectivos contentores e a pôr autocolantes a apelar ao civismo. E o vereador da cultura a organizar a quermesse da festa do Senhor dos Milagres, na qual participará o grupo de rock da rapaziada lá da terra e, dependendo do orçamento, algo mais, de preferência picante, para levantar o moral. Sim, porque com tanto desemprego por aí a maralha anda de cabisbaixo. A Carla Vanessa, filha do Manuel da mercearia, fez o canudo em Turismo & Hotelaria na Universidade do Carregal. Andava por aí aos caídos e agora é vê-la toda mimosa nos cartazes colados pelos muros do concelho como candidata à Câmara. Agarra um tacho pelo seguro. Ou pelo menos pretendentes de peso. Porque uma fotografia assim de moçoila com tanta cor e formusura não é para qualquer um.
Graças a Deus que há democracia na nossa santa terrinha.
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