sábado, setembro 19, 2009

Carta de Bom Comportamento

Dos píncaros da minha presunta inocência julgava que talvez houvesse alguma coisa em comum entre políticos, padres, professores e quejandos peregrinos da moral e dos bons costumes. Julgava que os políticos também pudessem ser referências de valores positivos, a serem partilhados pelos cidadãos, tais como a honestidade, a verdade, a lealdade, a devoção a causas comuns, o civismo, a legalidade, etc, etc. Pois bem, o actual momento político fornece provas abundantes de que eu estava redondamente enganado. Os políticos da nossa praça, inebriados pela corrida do poder, pelo entusiasmo do debate ou por coisas menos nobres como a inveja, o ódio e a vingança mostram aos atónitos cidadãos que vale tudo para chegar onde se pretende, para denegrir os adversários: a mentira, a rasteira, a cotovelada, a calúnia, o golpe baixo. E assim fazendo não transmitem ao povo eleitor, ao comum dos mortais, princípios honoráveis. Pelo contrário, instigam à adopção de comportamentos e tácticas igualmente insidiosas para se obter o que se pretende na fábrica, no escritório, na escola, na vida... Poluem éticamente a sociedade que pretendem governar sempre, naturalmente, em nome do bem comum. As suas particulares responsabilidades cívicas imporiam outra postura. Pela sua visibilidade e protagonismo na vida pública, os políticos deveriam obedecer a uma espécie de Carta de Bom Comportamento cuja atribuição passaria por um teste de conformidade e cujo desrespeito justificaria punição exemplar. No actual contexto, haveria bem poucos que permanecessem em actividade. Basta-nos mais uma vez a consolação de que não somos originais (espreitem o spaghetti da política italiana).

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