É evidente que tudo é efeméro, que tudo deve ser ligeiro, não-dramático. Senão, a vida seria insuportàvel. O seu lado trágico colocaria em perigo a própria sobrevivência. Se levassemos demasiado a sério a morte, as separações, as rupturas, a distância em relação ao que amamos, logicamente deveriamos passar o tempo a sofrer, a empatizar com esses motivos de dor. No limite, deveriamos replicá-los no quotidiano, o que poderia implicar, em circunstâncias extremas, desistir de viver ou viver com fardos infinitamente dolorosos. Mas, o mínimo é a sobrevivência e por ela estamos dispostos a assumir uma pragmática ligeireza perante os acontecimentos que nos perturbam. Alguns chegam a ver o lado cómico, desconcertante desse desconforto, a brincar com as adversidades. Também não iria tão longe para não cair na imbecilidade. A alternativa seria afogar-se na seriedade das coisas, vergar-se ao caracter definitivo de tanto que nos rodeia. Perdem-se amigos, amantes, pessoas de família, afastam-se momentos de felicidade e nós continuamos, cheios de heroismo, como se nada fora, raiando o cinismo, determinados a perseverar na vida ou na ilusão de viver. Porque a alternativa é a destruição. E vida só há uma, mesmo que seja fundamentalmente incompreensível.
E estamos basicamente sós (mais do que egoistas) neste debate milenário. Nas escolhas essenciais sobre a vida (e na morte) estamos irremediavelmente sós, dramaticamente sós. Não há amigos, por maiores que sejam, que tomem decisões ou que tenham lucidez por nossa conta.
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