terça-feira, junho 30, 2009

A triste história do Martim (dramas privados / morbidez pública)

O Martim é um bébé que foi tirado à mãe e à família da mãe e que se encontra numa instituição que cuida dele porque a mãe e a família da mãe foram consideradas incapazes pela segurança social de cuidar bem da criança. Vá-se lá saber quantos preconceitos e malvadez inspiraram a tal segurança social e os acólitos juizes... A mãe teve o Martim com 13 anos e agora tem 16. Uma história triste como tantas outras de gravidez precoce. Agora, a menina de 16 anos e a família da menina de 16 anos são atirados à opinião pública por "media" insaciáveis, como exemplos de bons sentimentos e vítimas de injustiça da lei e das autoridades. A menina de 16 anos aparece nas televisões com voz dengosa e tranquilidade quase etílica, abraçada a uma mãe de urbana postura, a pôr velinhas à senhora de fátima e a dizer que quer o Martim de volta e que é com a família que ele está bem. E quer dar-lhe todos os miminhos que ele merece. E antes fez vigílias à porta do tribunal e a mãe, de urbana postura, pôs-se em greve da fome para denunciar a rigidez da lei e a falta de coração das autoridades, jejum interrompido graças à intervenção tempestiva de notáveis figuras, como a esposa de um ex-presidente da república, reputada pela devoção à causa das crianças e pela dimensão ciclópica do cabelo engalanado (nem quero imaginar como arrisca a deitar a cabeça na almofada do leito conjugal).

Tudo isso está muito bem. Só não percebo porque é que durante tantos dias, ocupando tantos minutos de valioso tempo de antena, têm os cidadãos de seguir cada passo dessa tocante saga familiar, incluindo a ída a fátima e a imagem demorada da t-shirt da jovem mãe com a fotografia do Martim estampada em cores garridas. Só não percebo porque é que as televisões e certos jornais têm sempre assim uma história tristemente banal para esfregar na cara do comum dos mortais, quase até ao vómito. A resposta deve ser a lei da oferta e da procura. O que me preocupa, sobretudo, é o lado da procura... E tenho a certeza de que o Martim passaria muito bem sem uma tal notoriedade.

3 comentários:

Alice disse...

O problema é que, como a lei vai contra todo e qualquer bom senso, as pessoas não têm outro meio de tentar a sua "sorte" senão tocando a opinião pública através dos media...

Miguel disse...

Pois. E de caminho facturam as televisões e regala-se o voyeurismo do portuga...

Ana Fernandes disse...

Este é um daqueles casos em que só me apraz dizer: têm ambos razão! Só já não consigo entender qual é a causa e qual é o efeito..