domingo, junho 21, 2009

A armadilha das palavras

As palavras escritas podem ser belíssimas, transmitir pensamentos e emoções de uma maneira única e perene. As palavras podem cristalizar estados de alma, convocar corações, exprimir interesses. Podem transformar-se em combinações mágicas de significados que não poderiam ser expressos com tanta beleza de outro modo. Mas, as palavras, desencontradas dos sentimentos e da compreensão de quem as escreve e de quem as lê, podem enferrujar relações, criar mal-entendidos, arruinar expectativas, introduzir dúvidas onde não deveriam existir, remover substitlezas que deveriam permanecer. A arte das palavras consiste em as utilizar na quantidade e no sentido mais apropriados ao contexto da comunicação e ao desígnio que se persegue.

Esse é o discurso da eficiência da linguagem escrita. Mas, há um outro: o discurso das emoções puras e duras que se traduzem em palavras de que se perde o controlo, que correm por si mesmas, que se soltam do coração e que não conhecem os limites da eficiência, nem quaisquer outros. Essas palavras são ainda mais perigosas porque têm vida própria, quase independente da vontade do autor. Reflectem uma profunda sinceridade e emoção, desconhecem a conveniência, não calculam consequências, não demandam benefícios. São as palavras da autenticidade "for the better for the worse". Por vezes quebram encantamentos.

E depois há a vida que não cabe nas palavras, por mais bonitas que sejam.

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