domingo, março 15, 2009

Dilemas do desenvolvimento

O Banco Mundial desde há muito tempo que se coloca o problema de saber se se deve ajudar países com elevado nível de corrupção, dado que os financiamentos acabam por ser desviados numa certa proporção para outros fins, designadamente, para as contas em paraísos fiscais de decisores corruptos. A conclusão tem sido a seguinte: sem prejuizo de todos os esforços para minimizar esses desvios, deve aceitar-se como natural que uma parte do dinheiro vá parar a sítios errados, porque uma alternativa "integrista" seria bloquear por completo as ajudas, prejudicando assim, em larga medida, potenciais beneficiários inocentes e dramaticamente carentes. Trata-se de uma abordagem pragmática que se presta a uma certa complacência perante os abusos, para não privar por completo quem precisa de ajuda preciosa. Ou seja: luvas de x% serão parte "fisiológica" do custo da ajuda aos países pobres, dada a estrutura de governação e as falhas da Lei nesses países. Talvez não haja melhor maneira de encarar a situação, salvo se se exigir mudanças políticas radicais como condição prévia à atribuição de ajudas. Mas, isso poderia ser interpretado como ingerência nos assuntos internos dos países beneficiários, senão mesmo neo-colonialismo... em nome da ética, da eficácia e do desenvolvimento! São duros os dilemas que a realidade da pobreza coloca às boas consciências ocidentais.

Angola é uma economia de casino manipulada pelo proprietário e seus acólitos. Quem jogar deve saber que as probabilidades são viciadas e que, de qualquer modo, o risco é elevado. A relação dos países industrializados com aquele país não é baseada na defesa do desenvolvimento, da democracia ou dos direitos humanos. Pretende apenas retirar o máximo interesse económico que, nos tempos que correm, passa pela participação num "boom" alimentado pelas receitas do petróleo e de outros recursos naturais. O maná do petróleo a 140-150 dólares, porém, acabou e as taxas de crescimento do PIB superiores a 15% foram-se (pese embora a ficção do cálculo do PIB num país de economia escassamente monetarizada...). Ficar de fora desse banquete por uma questão de escrúpulos significa fazer figura de parvo na lógica económica dominante e dar espaço a outros países dirigidos por interesses sem problemas de consciência.

Sem comentários: