sábado, outubro 11, 2008

Da recessão aos impérios

Que eu saiba os biliões que têm sido anunciados pelas autoridades não correspondem a aumento da massa monetária, interna aos países ocidentais. Trata-se essencialmente de transferência ou redistribuição de uma liquidez que, de outra maneira, não circularia (nos tempos que correm, ninguém empresta a ninguém... salvo ao Estado): crédito assumido pelo sector público junto de investidores (instituições financeiras, empresas, particulares) para transferência para os mesmos ou diferentes agentes do sector privado. O que se verifica é a assumpção de risco (sistémico) pelos Estados, o que faz parte integrante das suas atribuições.

Retomo a equação de Fisher que ilustra a teoria quantitativa da moeda: simplesmente, M.V = P.T, em que M é a massa monetária, V é a velocidade de circulação da massa monetária, P o nível de preços e T o valor em termos reais das transacções numa economia. A minha tese é a de que M manter-se-á constante: o dinheiro não se volatilizou nem está a ser criado de forma significativa. V tem diminuido drasticamente, havendo mesmo casos anedóticos de entesouramento. O que as autoridades estão a tentar fazer é recuperar V, isto é, meter de novo a massa monetária em circulação, para moderar o impacto negativo sobre os preços (P) e/ou sobre as transações reais (T). Portanto, o risco será deflacionista em vez de inflacionista. Tanto mais que os mercados não têm a rigidez de outros tempos, pelo que, um excesso de oferta associado à recessão iminente traduzir-se-à mais directamente numa desacelaração (ou queda) dos preços.

Esta minha tese poderá ser algo contrariada por um outro fenómeno que a meu ver está em pleno desenvolvimento à escala global: a transferência de liquidez de Oriente para Ocidente. Os bancos centrais dos países emergentes e dos produtores das matérias-primas cujos preços têm aumentado nos últimos tempos, têm excesso de cash, sobretudo dólares. Estão a utilizar essas divisas para comprar títulos de dívida pública emitidos pelos países ocidentais, sobretudo os Estados Unidos, o que tapa o buraco no curto / médio prazo, podendo efectivamente provocar um aumento da massa monetária no Ocidente. Mas, na minha modesta opinião, esse efeito será mais de amortecimento das tendências deflacionistas latentes do que de alimentação da inflação. Quer dizer, a minha suposição é de que a situação não será semelhante à dos petrodólares nos anos 70.

Por outro lado, esta transferência de poupança coloca sérias questões quanto à solvabilidade dos devedores... Se o Ocidente não pagar os empréstimos que estão a ser concedidos pelo Oriente a dívida deverá talvez converter-se em... equity. Para evitar a falência! Mas, isso quer dizer a compra do Ocidente pelo Oriente. E caimos nas teses maximalistas segundo as quais o que se está a passar é um episódio da mudança do centro de gravidade do mundo ou da sucessão dos impérios...

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