A produção nacional cresceu 1.9% em 2007. Isso é mais do que se previa, mas é menos do que a média da Europa e apenas metade do número espanhol...
E daí? O que é que isso quer dizer para o comum dos mortais, para a criatura que continua no desemprego, para o velhote que passa fome porque a pensão não chega até ao fim do mês, para o jovem que vê o caso malparado para arranjar emprego e sair de casa dos pais no fim da licenciatura, para o doente crónico que não tem a certeza de ser atendido no mesmo sítio para o mês que vem, etc, etc? O que é que esses números, apresentados com pompa e circunstância pelo governo e seus apaniguados, tem a ver com o quotidiano das pessoas banais? Não dos tecnocratas, financeiros, protegidos e vencedores do regime que tem o cabelo puxado para trás e usam óculos redondos Giorgio Armani...
Porque é que 1.9% é uma espécie de medalha de ouro, motivo de regozijo, fonte de confiança e de optimismo? Porque é que deviamos fazer uma festa, dado que o PIB cresceu no ano passado 1.9% e isso é mais do que se pensava? Deviamos andar todos com um desenho de 1.9% estampado na cara, como se fosse a bandeira nacional durante o campeonato da Europa de futebol.
É preciso descodificar a economia e torná-la mais acessível das pessoas. Por exemplo, quem produziu esse crescimento, quem dele beneficiou, como foi repartido entre os vários sectores da população e entre as diferentes regiões do país? Porque não foi superior? Quanto deveria ter sido, durante quantos anos, para que se visse uma melhoria tangível das condições de vida dos portugueses, em especial dos mais pobres? Porque os mais pobres não são os mais estúpidos, preguiçosos, botas-de-elástico, ignorantes. Os mais pobres não são o estrume de uma sociedade que premeia a competência... A grande maioria dos mais pobres tiveram apenas o azar de nascer no sítio errado. Esses estão-se nas tintas para os 1.9%... até ao dia em que lhes provarem que se tornaram, pelo menos, 1.9% mais ricos, merecedores de mais 1.9% de dignidade e de menos 1.9% de sofrimento e de humilhação.
Só por curiosidade: segundo as minhas contas, seriam necessários 18 anos para que Portugal atingisse a média de produto per capita da UE-15, caso o PIB português crescesse em média 4.5% ao ano contra 2.5% da UE-15. Isso admitindo que a população cresça à mesma taxa e que actualmente o produto per capita português seja de 70% da média europeia. Esse número de anos duplicaria se Portugal crescesse a 3.5% e a EU-15 continuasse a crescer a 2.5%...
Abençoados 1.9%. Poderia ser ainda pior... E não foi seguramente por causa do nosso querido governo!
3 comentários:
...bom dia... com isto tudo,estava a pensar ir viver para o campo! que tal....miguel
Miguel, comento com uma frase de Platão:
"A penalização por não participares na política, é acabares a ser governado pelos teus inferiores".
Graça
para o campo, para a cidade, seja para onde for.. desde que seja além fronteiras..
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