sexta-feira, dezembro 14, 2007

Querido natal

É a minha veia amarga e negativa, o meu coração empedernido, ou esta época é propícia à hipocrísia ?

Há uma tal concentração de sentimentos e de emoções, uma tal obrigação de estar na onda que até chateia. Pessoas que não se suportam participam nas mesmas festas em que se celebra efusivamente o chamado espírito natalício. Colegas que passam o ano a boicotar-se uns aos outros reunem-se em almoços e jantares absolutamente surrealistas. Os sorrisos são máscaras que se derretem como cera. E depois há esta sensação do dever cumprido, ao fim de mais um ano de esforço. E algumas pessoas exteriorizam com pudor, finalmente, a sua humana fragilidade. Pouco. No meio de uma cosmética simpatia, de uma dolorosa cordialidade.

E as famílias têm de se encontrar e todos têm de se amar infinitamente, pelo menos nestes dias… Porque o tempo passa depressa e a regra são as ausências e a rotina. E pelo menos agora tudo será perfeito. E o mínimo incidente nesta época torna-se um atentado, uma demonstração de genuina maldade. Terrorismo. E o sofrimento e a solidão ficam ainda mais penosos. Mas, são precisos para a decoração do conjunto...

Este ritual, esta procissão de açucar, sorrisos, champanhe, luzes, ternura, esperança, melodias de corações ao alto, este carrossel em que se mete a vida a girar uma volta só. Uma vida metida num estranho parêntesis... até ao próximo ano.

2 comentários:

Miguel disse...

Só faltava mesmo o "Natal dos Hospitais"...

Anónimo disse...

eu choroo natal......miguel