O que se está a passar no mercado do crédito, nomeadamente nos Estados Unidos, é, em parte, culpa dos matemáticos.
Explico-me.
Certos grandes empréstimos são garantidos por outros numerosos pequenos empréstimos. O reembolso e os juros dos primeiros dependem da performance dos segundos. Se estes últimos entram em situação de incumprimento os primeiros não são reembolsados. A taxa de juro e o prazo dos grandes empréstimos são determinados considerando a probabilidade de perda dos pequenos empréstimos. Ora é aqui que entram os matémáticos ao dizer, por exemplo, que há uma probabilidade de apenas 1% de que mais de 50% dos pequenos empréstimos não sejam pagos. Se compro titulos pertencentes à parte melhor dos grandes empréstimos (os 50% mais acima na escala do risco), em principio, há menos de 1% de hipóteses de vir a perder alguma coisa. Por isso, estou disposto a subscrever esses títulos e mesmo a receber uma taxa de juro mais baixa, dado que eminentes matemáticos e financeiros me dizem que o risco é pequeno. Ora essas probabilidades de perda dependem de algoritmos sofisticados e de um grande número de hipóteses que, quando a coisa dá para o torto, quase nunca se concretizam. Isto é: em caso de crise a realidade é normalmente pior do que a pior conjectura e, portanto, as perdas tocam quem, matemáticamente, lhes deveria ser imune.
Tudo isto coloca em causa a própria credibildade da finança exageradamente baseada em modelos e faz recordar que o crédito contém elementos de subjectividade e de julgamento incontornáveis. Quando se dá peso excessivo aos fisícos e matemáticos descola-se da realidade e brinca-se com o fogo. É preciso não esquecer que essas profissões têm sido pagas a peso de ouro nos principais centros financeiros mundiais e concerteza não têm tido problemas de desemprego.
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