sábado, novembro 24, 2007

Galileu

Galileu não é apenas o nome de um génio italiano do Renascimento. É também o nome de um mega-projecto europeu de lançamento de 30 satélites para rivalizar com o sistema GPS americano. Custo total previsto: cerca de 3500 milhões de euros. O principal interesse do projecto é estratégico, isto é, a Europa pretende autonomizar-se do GPS que os Estados Unidos podem “desligar” a qualquer momento por razões politico-militares. Mas, o GPS tem uma enorme vantagem: é gratuito! Com essa brincadeira podemos instalar nos nossos automóveis aqueles ecrãs (esses não são gratuitos...) que nos guiam por todo o lado e que nos dispensam de raciocinar geograficamente. Galileu também mete a Europa a par de Chineses e Russos que têm desenvolvido outros esquemas alternativos ao GPS.

Enquanto sistema de posicionamento por satélite, Galileu terá maior precisão do que os sistemas rivais: permitirá localizar objectos com um erro inferior a 1 metro. Assim, poderá também ser utilizado para navegação marítima e aérea, pesquisa de recursos naturais, prevenção e detecção de acidentes e catástrofes e melhoria do diagnóstico e previsão meteorológicos, etc. Todas estas utilizações e consequentes receitas comerciais fizeram pensar aos promotores do projecto que ele poderia ser realizado em parceria com o sector privado. Foi lançado um concurso a que se candidataram consórcios juntando empresas europeias dos sectores electrónico, aeroespacial e de construção civil. As ofertas recebidas foram consideradas insatisfatórias pela Comissão Europeia, principal entidade do organismo concessionário, nomeadamente, por causa do montante elevado de ajudas públicas pedidas pelos candidatos. Isto é, as estimativas de receitas comerciais do projecto eram demasiado baixas e os riscos da sua realização eram considerados muito elevados. Houve ainda uma tentativa de financiamento privado parcial do projecto através da fusão dos candidatos à concessão num único candidato, mas nem assim a coisa se salvou.

O projecto deveria ser financiado exclusivamente com dinheiro público. Entrou-se num período de impasse e tudo fazia prever um falhanço clamoroso. O maior obstáculo eram as rivalidades entre alemães e franceses quanto a saber qual das respectivas indústrias ganharia mais com as encomendas associadas ao projecto. Os alemães estariam dispostos a participar no financiamento com o dinheiro dos seus contribuintes desde que a indústria alemã recebesse uma parte proporcional das encomendas. Os franceses, que também têm uma indústria aeroespacial muito forte, puxavam igualmente pelos seus interesses nacionais.

Na verdade, um dos princípios essenciais da Agência Espacial Europeia (ESA) – a organização multilateral com sede em Paris que lançou designadamente o projecto Ariane – é o do “juste retour”, quer dizer: a indústria de cada Estado-membro da ESA (incluindo Portugal) tem direito a receber encomendas, relacionadas com um determinado projecto, por um valor não inferior ao da participação desse mesmo Estado-membro no financiamento do projecto. Os alemães pretendem que esse princípio também se aplique a Galileu para assegurar o financiamento pelos Estados mais directamente envolvidos. Mas, os outros países dão preferência ao financiamento pelo Orçamento da União Europeia, o que tem um efeito de mutualização que pode provocar algum desequilíbrio entre as diferentes indústrias nacionais.

Depois de muita negociação, que implicará também deslocação para o projecto de verbas inicialmente destinadas a outros orçamentos da União Europeia, nomeadamente, ao da política agrícola (de que beneficiam sobretudo os franceses), espera-se que o financiamento de Galileu seja aprovado, finalmente, no Conselho de Ministros dos Transportes da UE que se realiza no próximo dia 29 de Novembro. Assim, a partir de 2012 poderão estar no espaço 30 satélites e, em terra, diversas estações de controle para assegurar os louváveis e sofisticados serviços do sistema europeu de GPS.

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