Se a economia portuguesa funcionar tão ortodoxamente quanto outras economias em reestruturação e crescimento (como a espanhola desde os anos 80), o desemprego vai ter de continuar a aumentar. Por causa dos empregos destruidos em sectores não competitivos que os novos sectores competitivos (!) não vão conseguir absorver ou compensar. A Espanha chegou aos 20% de taxa de desemprego no pico do sofrimento da reestruturação para, nos últimos anos, atingir uma taxa de desemprego da ordem dos 7-8%. Portanto, temo que, antes de poderem gozar "o sol" da modernidade, os portugueses tenham de sofrer ainda muito "a chuva" da reforma estrutural.
Claro que tudo isto supõe que existe, efectivamente, reforma. E que é estrutural, de modo a assegurar o lado virtuosamente instrumental do sofrimento... Não estou seguro de que assim seja! Por outro lado, tudo isto não é neutro do ponto de vista da distribuição dos esforços. O agravamento da distância entre a abundância e a pobreza é mesmo provável. Os cada vez mais numerosos desempregados são gente vulnerável, dos pontos de vista económico, social e cultural, são os perdedores da restruturação. Naturalmente, também haverá os ganhadores que até poderão nem sequer sofrer durante o período de transição: privilegiados e protegidos, letrados, flexíveis, jovens, empreendedores, criativos...
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