segunda-feira, outubro 22, 2007

De crise em crise até à crise final ?

Moral hazard quer dizer: tendência para se fazer uma coisa errada porque existem mecanismos que eliminam ou amortecem os efeitos negativos do que se faz. Por exemplo, o facto de se ter um seguro pode levar a comportamentos mais arriscados, dado que os danos serão cobertos total ou parcialmente pela respectiva companhia de seguros. Tudo isto vem a propòsito da crise larvar em que têm vivido os mercados financeiros nos últimos anos. A intervenção recorrente das autoridades monetárias, injectando somas colossais de liquidez ou socorrendo de várias maneiras as entidades que praticaram actos de má gestão ou que especularam exageradamente, em detrimento dos interesses de outros agentes económicos, por causa dos alegados efeitos sistémicos que resultariam da derrocada desses "infractores", cria um ambiente de impunidade e a sensação de que, afinal, "o crime compensa". Os bancos, por exemplo, podem cometer as maiores "atrocidades" sem arriscar a falência.

O sistema financeiro mundial tem evoluido de bolha em bolha, com crescente amplitude e sofisticação, sem que os "maus da fita" alguma vez tenham pago verdadeiramente pelos pecados que cometeram (excepto no caso de crimes clamorosos como foi o escândalo Enron). Isso é apenas um incentivo a que continuem orgulhosamente os "maus da fita" e a que as bolhas continuem a criar-se, amortecidas por cada vez maiores intervenções das autoridades e pelo desenvolvimento de produtos cada vez mais sofisticados que desafiam as leis elementares da economia real e que disseminam as perdas por um número crescente de incautos investidores.

A consequência essencial de tudo isto é uma maior instabilidade e uma maior frequência das crises. Enquanto não se fizer pagar as perdas a quem as provocou não haverá nem credibilidade nem tranquilidade e um destes dias acordamos no meio de um 11 de Setembro da finança de consequências imprevisiveis sobre a economia real. Como acontece demasiadas vezes pagarão mais os justos do que os pecadores.

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