Em Portugal o rugby é o desporto das "pessoas-bem": intelectuais, burgueses, bem pensantes. As pessoas de gosto requintado, de classe, adoram aqueles gajos que se atiram uns aos outros com apetite antropofágico. É assim uma coisa exótica, à parte, que só uma minoria pode perceber. Acho que muitos desses adeptos de há poucas semanas nem sequer gostam verdadeiramente daquela coisa. Do que eles gostam é de mostrar que gostam. E assim julgam-se no direito de pertencer a uma espécie de seita. Como todas as seitas, com linguagem e rito específicos, mais ou menos inacessíveis ao comum dos mortais. O comum dos mortais é o troglodita que só gosta de futebol, que não consegue compreender a subtileza e o encanto do rugby.
Ter sido derrotado no campeonato do mundo tão heroicamente por todos aqueles gigantes da modalidade foi uma prova de supremo patriotismo. Um patriotismo devoto, incondicional, sofrido. Deram mais do que o litro, entregaram-se de corpo e alma à defesa da bandeira, choraram baba e ranho de todo o tamanho ao ouvir o hino. O jogador de rugby passou a ser um paradigma de como se pode perder com o papo inchado de orgulho.
[Faz-me lembrar o "orgulhosamente sós" ou aquela história da senhora que vai ver o juramento de bandeira do filho que é o único que leva o passo trocado e diz cheia de alegria: "rico filho, é o único que vai a marchar bem".]
Português que se preze é assim mesmo: defende as cores nacionais mesmo a jogar ao pau com os ursos, mesmo nas corridas de escaravelhos, mesmo no festival eurovisão da canção canina. Os belgas que ponham aqui os olhos e que se deixem de amuos.
Outro paradigma é o Mourinho... Agora até o consideram uma espécie de farol para o sucesso do "Plano Tecnológico Nacional". Transformar um revés em fonte de auto-estima, nunca se deixar ir abaixo, perseverar sempre na procura dos objectivos, determinação, convicção, trabalho, muito trabalho... Tudo isto e muito mais disse a Fátinha do "Prós e Contras".
Do que Portugal precisa mesmo é de 10 milhões de Mourinhos. Eu sou pela cultura OGM de Mourinhos. Não me venham com pruridos ecologistas. Quem se atreveria a destruir uma tal cultura !
Só tive pena que a SIC cortasse subitamente a palavra ao Santana Lopes para apresentar imagens em directo da chegada do dito cujo ao aeroporto. Até parecia o Papa. Porra, nem deixaram o gajo cheirar o perfume da àrea circundante do aeroporto. E o pobre do Santana que explicava as relevantes diatribes entre o Menezes e o Mendes ficou indignado e deixou o estúdio intempestivamente. "Ainda se fosse o Presidente... Vim à televisão com tanto sacrifício e depois cortam-me assim a palavra...", lamentou-se. A justo título, carago.
Apesar de tudo... viva o Mourinho, viva. Pimba !
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