Cliquem no título para aceder a uma interessante entrevista do economista francês Michel Aglietta publicada pelo "Le Monde" no passado Sábado.
No final da entrevista é sublinhada a relevância do crescimento das economias asiáticas, baseado nas exportações, para explicar a contenção dos salários e da inflação à escala mundial, assim como a inversão dos fluxos financeiros Oriente/Ocidente. A acumulação de reservas associada a uma consistente sub-avaliação das moedas desses países (essencialmente da China), está a mudar a paisagem da finança mundial e a remeter os Estados Unidos a uma posição de crescente e crónico devedor. No momento em que o dólar deixar de desempenhar a sua função de moeda universal de reserva, o sistema pode desequilibrar-se perigosamente porque os Estados Unidos deixarão de poder financiar os seus défices através da emissão de moeda aceite pelos credores. Paradoxalmente, a elevação do Euro a um estatuto comparável ao do dólar pode, por isso, não ser do interesse dos próprios Europeus... Ou seja: os Estados Unidos mantém o mundo refém dos seus défices e do papel de pivot desempenhado pela sua moeda. Quem desafiar esse papel arrisca-se a apanhar com a insolvência dos Estados Unidos em cima...
Outra ideia mais banal que ressalta da entrevista é a de que o capitalismo global depende cada vez mais de accionistas obsecados pelo retorno trimestral dos seus investimentos. A isso se deveria contrapor uma visão mais de longo prazo, apadrinhada, designadamente, pelas autoridades monetárias.
A ausência de inflação, combinada com a criatividade de financeiros que fabricam mecanismos sofisticados de estratificação e disseminação do risco, terá sido um dos factores da atracção pelo risco, a qual gera uma crescente volatilidade dos mercados e a sucessão de bolhas especulativas ("new economy", matérias-primas, imobiliário, etc.) que explodem quando as pessoas se apercebem de que os preços dos activos descolaram completamente da realidade. E aí... é a correcção na descida aos infernos...
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